sábado, 19 de setembro de 2015
domingo, 13 de setembro de 2015
sábado, 12 de setembro de 2015
segunda-feira, 7 de setembro de 2015
Refugiados e Imigrantes
Pio
Penna Filho*
As últimas imagens de pessoas desesperadas
tentando chegar ao espaço europeu tem chamado a atenção internacional para o
fenômeno dos deslocamentos humanos recentes. São cenas chocantes de milhares de
pessoas que tentam a todo o custo entrar na Europa em busca de melhores
condições de vida, mesmo que isso lhes custe a própria vida.
Essas pessoas se dividem, basicamente, em
dois grupos. Há o grupo dos refugiados, que geralmente saem de países que
passam por conflitos e guerras civis, como são os casos da Síria e do
Afeganistão, e o grupo dos imigrantes, sendo que este último reúne pessoas que
desejam uma oportunidade em algum país estável e desenvolvido.
A relativa proximidade geográfica, o nível
de desenvolvimento e a possibilidade de um recomeço de vida são os principais
atrativos identificados por imigrantes e refugiados que buscam a Europa. Lá
parece ser, para muitos, uma terra promissora, uma espécie de novo “eldorado”.
O problema é que a Europa, assim como qualquer
outra região do mundo, não está preparada para receber um fluxo tão grande de
pessoas num período tão curto de tempo. Em termos financeiros os custos para
manter uma população nova, ainda em fase de estabelecimento e adaptação, são
muito elevados.
Mas há também o problema do choque
cultural. A maioria dos refugiados e imigrantes são provenientes de culturas
muito distintas das europeias e o choque é inevitável, sobretudo com problemas
de discriminação e preconceito. Assim, a humilhação se associa à
vulnerabilidade dessas pessoas quando elas conseguem chegar à Europa.
Não há solução a curto prazo para esse
problema. Não adianta os europeus tentarem “fechar” as suas fronteiras com
arame farpado, com muros, com dispositivos militares e coisas afins. A pressão
continuará e a tendência é que esses fluxos aumentem, pelo menos ainda por um
tempo.
A única saída, e essa demanda tempo, é
tentar levar estabilidade política e algum desenvolvimento econômico para as
principais regiões de onde partem esses imigrantes e refugiados. Enquanto isso
não mudar, todas as políticas de contenção do problema estarão fadadas ao
insucesso. E isso, como se sabe, não acontece e nem acontecerá da noite para o
dia.
Há muita desigualdade no mundo
contemporâneo. Vivemos numa era globalizada, em que o mundo parece ter
encolhido, diminuído, e se tornado mais interdependente e desigual, e isso
coloca em evidência o grande contraste entre os ricos e os pobres. A busca por
melhores condições de vida é legítima e natural para o ser humano. O mundo,
portanto, não pode fechar os olhos deliberadamente para o sofrimento de tanta gente.
Esse problema não é apenas da Europa, é
bom que se diga. É um problema global e que requer, portanto, uma resposta
global.
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
As Bombas de Hiroshima e Nagasaki
Pio
Penna Filho*
Segunda-feira, 6 de agosto de 1945, pouco
depois das oito horas da manhã os americanos lançaram uma bomba atômica sobre a
cidade japonesa de Hiroshima. No dia 09 do mesmo mês, porém um pouco mais tarde,
mas ainda pela manhã, foi a vez da cidade de Nagasaki. Milhares de pessoas
morreram instantaneamente. Outras milhares morreram mais lentamente, até mesmo
muitos anos após os eventos dos dias 06 e 09 de agosto.
Os Estados Unidos cometeram um verdadeiro
crime contra a humanidade no Japão. Os lançamentos das bombas atômicas, uma de
urânio e outra de plutônio, poderiam tranquilamente terem sido evitados. Mas os
americanos queriam mostrar ao mundo a sua nova e formidável arma. Queriam
também castigar o Japão pelo ataque à base naval de Pearl Harbor, que
desencadeou a guerra entre os dois países.
A decisão de lançar as bombas não foi
baseada apenas levando em conta os objetivos militares norte-americanos. Ela
teve, na verdade, um forte componente político, que era o de mostrar aos
soviéticos e ao mundo quão poderoso eram os Estados Unidos ao final da Segunda
Guerra Mundial.
O presidente dos Estados Unidos, assim
como os cientistas e as pessoas diretamente envolvidas no programa nuclear,
estavam plenamente cientes que haviam construído uma arma com potencial nunca
antes visto e que o seu impacto seria apavorante. Aliás, a escolha dos alvos
nos revela até onde pode ir a maldade humana, especialmente em tempos de
guerra.
Hiroshima foi uma cidade relativamente tranquila
durante toda a guerra. Praticamente não sofreu ataques aéreos convencionais
norte-americanos e sua população estava um tanto despreocupada com a
possibilidade de se tornar alvo direto de um ataque. Daí é possível imaginar a
surpresa de sua população quando a bomba explodiu, ainda mais porque ninguém
conseguiu compreender que arma era aquela que havia produzido um efeito tão
devastador e estranho.
A ideia era justamente essa: usar a cidade
japonesa de Hiroshima como um balão de ensaio para verificar o resultado de um
ataque nuclear real. O que aconteceria com a infraestrutura da cidade? Qual
seria a real dimensão do poder destrutivo da bomba? Quantas pessoas ela poderia
matar de uma só vez? Essas e outras dúvidas precisavam ser respondidas com uma experiência
concreta. Quanto mais destrutiva, quanto mais pessoas mortas, melhor para a
propaganda norte-americana.
Não satisfeitos com o ataque a Hiroshima,
os Estados Unidos atacaram Nagasaki com um novo artefato nuclear. Aí o crime se
materializa de vez, porque as notícias sobre os horrores ocorridos em Hiroshima
já haviam se espalhado e os Estados Unidos já tinham uma ideia mais precisa
sobre os efeitos da bomba. Caso os japoneses não se rendessem, muito
provavelmente outra bomba seria lançada. Talvez até mais de uma.
Hoje, os arsenais nucleares são muito mais
vastos e as bombas e ogivas muito mais poderosas do que aquelas lançadas no
Japão em 1945. Norte-americanos, russos, chineses, franceses, ingleses,
paquistaneses, indianos, israelenses e norte-coreanos possuem sofisticadas
bombas atômicas.
É até compreensível que tenhamos chegado
ao ponto que chegamos, sobretudo porque a humanidade é movida, em grande
medida, por sentimentos nada nobres, como bem nos ensina a História. A lição que
fica é que, infelizmente, não se deve duvidar, de jeito nenhum, da maldade
humana. Caso os Estados Unidos tivessem perdido essa guerra, certamente os seus
dirigentes seriam julgados e condenados por crimes contra a humanidade.
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB),
Pesquisador do CNPq e do Centro de Estudos Estratégicos do Exército
Brasileiro (CEEEX). E-mail: piopenna@gmail.com
Paraguai: guerra injusta?
Pio
Penna Filho*
O Papa Francisco, em recente visita ao
Paraguai, afirmou que a guerra do Paraguai foi injusta. Sem dúvida, a guerra do
Paraguai foi injusta, sobretudo com o povo paraguaio. Mas qual guerra pode ser
considerada justa? O que é necessário para definir uma guerra como justa?
Talvez o Papa tenha falado isso porque é um humanista e, por princípio,
contrário a todas as formas de guerra.
É muito difícil afirmar que uma guerra é
justa. Geralmente é aceito que um país tem o direito de se defender quando
sofre uma agressão. Se for esse o caso para definir que uma guerra é “justa”,
pelo menos em seu ponto de partida, então a guerra do Paraguai começou a partir
de um ato de justiça, porque afinal o Brasil foi atacado por tropas paraguaias
que, além de invadirem o território do país, assassinaram cidadãos brasileiros
e saquearam propriedades por onde passaram.
Temos que parar com a vitimização do
Paraguai em decorrência da guerra do século XIX. É bobagem e proselitismo
barato dizer que o Brasil foi o malvado e o Paraguai, a vítima; o país bonzinho
destruído pelo poderoso Império brasileiro.
Os paraguaios seguiram até o fim o seu
líder supremo, o marechal Solano López, que arriscou a existência de sua pátria
em nome de um objetivo político impossível de ser alcançado, que era impor os
interesses do seu país ao Brasil por meio de uma medida de força. Aliás, a
reabilitação histórica de Solano López é, no fundo, um despropósito, porque
afinal foi ele o artífice de sua própria queda e da ruína do seu país. É esse
tipo de líder ou herói que os paraguaios querem cultuar?
López teve o destino que mereceu. Suas
próprias ações levaram a isso. Acusar o Imperador e os militares brasileiros de
terem conduzido uma guerra injusta não faz o menor sentido, a não ser na
perspectiva da vitimização de um país que foi vítima do seu próprio líder
supremo. Não devemos, como brasileiros, portanto, ceder a esse canto da sereia
do revisionismo histórico sem fundamento nos fatos.
É preciso, portanto, colocar a questão em
perspectiva. Nesse caso, não há como mudar a História. O que aconteceu foi que
o Paraguai, numa atitude insana, atacou o Brasil e a Argentina e pagou para
ver. O que queria Solano López? Que o Império brasileiro recuasse e aceitasse a
vontade política do Paraguai, intimidado por uma agressão militar? Ora, isso
simplesmente não existe.
O Brasil exerceu o seu direito e, diria
mesmo, sua obrigação de revide a uma agressão externa. E é sempre bom lembrar
que quem se preparou para a guerra foi o Paraguai. Nem o Brasil e nem a
Argentina pensavam em guerrear com o Paraguai, por isso o prolongamento do
conflito, uma vez que os seus exércitos estavam despreparados para a guerra.
É verdade que a guerra atingiu um patamar
absurdo de violência e que quem pagou o preço mais caro por ela foi o povo
paraguaio. Mas qual guerra não é violenta? A violência é inerente à guerra.
Acusações de crueldade em guerras são redundantes e, por vezes, são usadas como
forma de denegrir a imagem de um dos atores por motivos políticos. Tão covarde
quanto matar crianças em combate é colocá-las em combate, isso apenas para
ilustrar um dos episódios mais criticados da guerra.
Portanto, a guerra do Paraguai foi injusta
como todas as guerras são injustas. É preciso parar com esse proselitismo
barato de que o Paraguai é o que é por causa do Brasil.
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB),
Pesquisador do CNPq e do Centro de Estudos Estratégicos do Exército
Brasileiro (CEEEX). E-mail: piopenna@gmail.com
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