André Saito[i]
De tempos
em tempos, mudanças sensíveis na cultura empresarial acontecem e causam
impactos diretos nos negócios. Foi-se o tempo em que apenas equipamentos e
atividades operacionais geravam lucratividade para as organizações. Hoje, o
olhar empresarial também está voltado para o capital intelectual, ou seja, para
as pessoas.
A
importância dada a elas - suas capacidades criativas, motivações, competências
e conhecimentos - é sentida como um diferencial e uma oportunidade para as
empresas crescerem mais. Fato este apontado pela recente pesquisa da Deloitte,
que indica que as organizações pretendem investir cerca de 2,4% de seu lucro em
benefícios aos colaboradores.
Dar maior
importância às pessoas do que aos bens tangíveis torna-se uma tendência porque
são elas que detém os conhecimentos mais valiosos sobre como atingir melhores
resultados, como diagnosticar problemas e otimizar processos internos, enquanto
os equipamentos usados nas operações são meros coadjuvantes para tal fim.
A maneira
de aproveitar melhor o conhecimento desses colaboradores é praticar a gestão do
conhecimento, que nada mais é do que estimular e facilitar a troca, e o uso e a
criação de conhecimento em toda a empresa. Com a gestão do conhecimento, as
pessoas são incentivadas a compartilhar aquilo que sabem, de forma a criar um
ambiente de trabalho no qual toda experiência válida pode ser acessada pelos
outros colaboradores e aplicada em suas atividades a fim de elevar a
produtividade da companhia.
Falando
em conhecimentos, há dois tipos básicos que podem ser aplicados pelo ser
humano: o explícito e o tácito. O conhecimento explícito é o mais fácil de ser
colocado em palavras, registrado e documentado. É facilmente adquirido por meio
da leitura de manuais, livros e artigos, por exemplo. Quando falamos das funcionalidades
de um sistema, ou das etapas de um processo produtivo, tratamos do conhecimento
explícito.
O segundo
tipo - o tácito - é o mais difícil de ser colocado em palavras e é adquirido
apenas com a prática. O conhecimento tácito é aquele que só conseguirmos
mostrar ao usar. Um líder gerindo sua equipe, um médico realizando um
diagnóstico ou vendedor fechando uma venda difícil, são exemplos desse tipo de
conhecimento. É difícil de explicar e só se aprende com a experiência, com a
vivência.
Para as
empresas, a gestão do conhecimento pode ser de grande valia, pois contribui
para a geração de valor, otimização das operações e para melhora do atendimento
ao cliente final. Por isso deve ser aplicado nas empresas. Uma vez disseminado,
o conhecimento pode ser retido por outros colaboradores, a fim de gerar
resultados sempre superiores aos do passado. Um engenheiro que opera uma
plataforma de petróleo em alto mar tem uma experiência riquíssima que deve ser
bem aproveitada. É preciso reconhecer e disseminar esse conhecimento para que a
empresa esteja sempre evoluindo. É algo contínuo.
Um dos
desafios para as empresas atualmente é aplicar a gestão do conhecimento de
forma alinhada aos negócios, orientada para os objetivos estratégicos da
empresa. Não adianta implantar a gestão do conhecimento sem pensar em quais
resultados se quer atingir. Caso contrário, a gestão do conhecimento gera pouco
impacto.
[i]
André Saito é
Ph.D. em Ciência do Conhecimento, coordenador acadêmico da FGV, coordenador do
curso de gestão estratégica de pessoas do SENAC e diretor de Educação da
Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento (SBGC)
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