Pio Penna Filho*
A fome é um dos grandes dramas da humanidade. Infelizmente, apesar de
hoje produzirmos alimentos de sobra para todos os humanos, quase um bilhão de
pessoas passa fome ao redor do mundo. Trata-se de uma calamidade global, movida
por muita desumanidade e descaso para com o outro.
Desde meados do século XX, com a revolução verde que levou ao aumento da
produção e da produtividade na agricultura, atingimos o patamar de segurança
alimentar, no sentido de que, pela primeira vez, a produção agrícola passou a
ser suficiente para a alimentação de todos os humanos.
Entretanto, a capacidade de produzir alimentos em abundância não levou ao
fim da fome e da subnutrição. O que era para ser a segurança alimentar para
toda a humanidade não passou de uma vaga possibilidade. O que vimos foi, por
incrível que pareça, o aumento da insegurança alimentar em várias regiões,
sobretudo na África e em partes da Ásia.
A fome está diretamente relacionada com a pobreza. O desemprego e a baixa
remuneração de milhões de pessoas ao redor do mundo levam à privação alimentar.
Ou seja, existem alimentos, mas pecamos na distribuição e no acesso a eles.
Muitas pessoas simplesmente não têm renda suficiente para se alimentar todos os
dias.
Esse enorme contingente populacional entra num ciclo vicioso, onde a
pobreza leva à fome que, por sua vez, leva a uma situação de penúria que em
muitos casos compromete o futuro ou a própria vida dessas pessoas e de seus
descendentes.
É um drama em larga proporção que deveria incomodar a consciência humana,
se é que ela existe. Embora existam organismos internacionais e agências
nacionais voltadas para o combate à fome e à pobreza, o problema persiste em
quase todos os países.
Naturalmente são os países mais pobres e desiguais aqueles que tem
maiores contingentes de esfomeados. Mas a fome está presente também em países
ricos e desenvolvidos, porque neles também existem pobres.
A solução para esse problema é complexa. Passa pela revisão de políticas
públicas nacionais e internacionais voltadas para a supressão da fome e de um
disciplinamento da grande especulação financeira que existe em torno da
produção agrícola. Não é possível que em pleno século XXI sejamos incapazes de
rever a política de acesso a alimentos ao redor do mundo.
É imperativo que a Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO) exerça um papel mais ativo no plano global e que seja
respeitada e apoiada pela comunidade internacional. Embora a FAO seja de grande
importância para milhares e milhares de pessoas ao redor do mundo, o suporte
que recebe da comunidade internacional ainda é insuficiente para fazer frente
ao grande desafio de eliminar a fome do planeta.
Os historiadores do futuro, quando olharem para trás, para a nossa época,
certamente notarão esse terrível paradoxo do qual a maior parte de nós é
insensível. Temos alimentos para todos, mas negamos o direito à alimentação, ou
seja, à vida, para quase um bilhão de pessoas!
*
Professor do Instituto
de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do
CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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