Pio
Penna Filho*
Enquanto a Coreia do Norte faz ameaças
atômicas, um novo atentado terrorista deixa os norte-americanos ansiosos. A
cidade da vez foi Boston, mas poderia ser qualquer outra, maior ou menor. O
fato é que o número de descontentes com as atitudes de sucessivos governos
norte-americanos não para de crescer e, entre eles, há gente disposta a tudo,
mesmo que para atingir os seus objetivos políticos pessoas inocentes tenham que
sofrer e morrer.
A resposta tem sido invariavelmente a
mesma, isto é, ações de retaliação que usam a força e a violência. Aliás, na
maior parte das vezes a resposta dos Estados Unidos é absurdamente
desproporcional e indiscriminada. Assim, muitas outras pessoas inocentes acabam
se tornando vítimas do emprego de métodos tão abomináveis quanto aqueles
praticados pelos terroristas. A diferença básica é que o terrorismo de Estado
costuma ser mais digerível e tolerado do que o de grupos radicais.
É preciso prestar mais atenção à retomada
do terrorismo no período do pós-Guerra Fria, ou seja, a partir do fim da União
Soviética e do desmoronamento do mundo do socialismo real. Embora o terrorismo
seja muito mais antigo, foi no final da década de 1990 que as suas ações se
tornaram mais intensas.
O incremento do terrorismo tem a ver com
a postura dos Estados Unidos em termos de política internacional. Esse, pelo
menos, é um dos principais argumentos utilizados por alguns dos mais
expressivos movimentos que publicamente assumem o terrorismo como forma de luta
política. E, de fato, não se trata de um argumento fraco.
É importante ponderar, entretanto, que
não se deve transformar a vítima em culpado, como uma leitura superficial do
argumento pode sugerir. Não se trata, portanto, de
aceitar passivamente a justificativa daqueles que praticam o terrorismo. Mas é
preciso refletir porque o terrorismo acontece nos Estados Unidos e em alguns
outros poucos países europeus e não na maioria dos outros países espalhados
pelo mundo.
Não há defesa razoável que sustente ações
terroristas. O terror empregado contra pessoas – porque geralmente o terror não
é contra o país, mas sim contra cidadãos de determinado país – é um crime que deve ser combatido
permanentemente. Entender as motivações que levam pessoas a se agruparem em
torno de movimentos radicais é um passo importante para combater esse tipo de
violência.
Infelizmente para os cidadãos
norte-americanos, a compreensão do terrorismo é um dos últimos objetivos dos
Estados Unidos. As atitudes tipicamente imperialistas do país tem gerado e
espalhado muito ódio em todo o planeta, o que acaba gerando movimentos radicais
que, por sua vez, retribuem com ações terroristas.
Pelo menos dessa vez estamos assistindo a
uma cautela maior por parte do governo e da mídia dos Estados Unidos em não se
adiantarem às investigações. Até agora as autoridades não apontaram o dedo para
essa ou aquela organização, para essa ou aquela pessoa como responsável pelo
atentado. Em tempos tão difíceis, pode-se considerar que já é um avanço.
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com