Pio
Penna Filho*
As manifestações populares em curso no
Brasil alcançaram outras partes do mundo. O Brasil, que já estava em evidência
na mídia internacional por conta da realização da Copa das Confederações,
passou agora a constar quase que diariamente em diversos noticiários
internacionais que repercutem os grandes protestos que vem ocorrendo em
diversas partes do país.
Trata-se de algo novo. Geralmente, as
notícias sobre o Brasil focavam aspectos da extrema violência cotidiana no país
ou então informações relacionadas à economia nacional. Mas a extensão das
manifestações políticas em andamento chamaram a atenção da mídia, aliás, como
não poderia deixar de ser.
Muitos brasileiros que moram no exterior
saíram para as ruas e praças de cidades como Toronto, Madri, Paris e Londres
para manifestar sua solidariedade aos protestos que vem ocorrendo no Brasil. Desta
forma, ajudaram a ampliar a divulgação do descontentamento interno e passaram a
mostrar um Brasil ainda pouco conhecido no exterior.
Dois aspectos ganharam mais destaque. Em
primeiro lugar, o inusitado dessas manifestações. Ninguém poderia prever uma
explosão de descontentamento dessas proporções e com tal intensidade. É de se
notar, a propósito, que os governantes, políticos brasileiros e a própria
sociedade foram pegos de surpresa.
Em segundo lugar, a reação inicial de
vários governadores, sobretudo no Estado de São Paulo (mas não apenas) foi a de
lançar a força policial com repressão brutal aos manifestantes. Isso repercutiu
muito mal, tanto interna quanto externamente. Alguns analistas identificaram
nessa atitude o despreparo da polícia brasileira para o tratamento de
manifestações tipicamente democráticas e, no exterior, colocou mais um ponto de
interrogação no preparo do estado brasileiro para conduzir grandes eventos.
Outro ponto que chama a atenção é que há
uma tendência a fazer comparações entre as manifestações na Turquia e as que
estão ocorrendo no Brasil. São questões diferentes, mas que se aproximam devido
ao caráter popular e espontâneo de desafio aos governos constituídos e sua
ampla mobilização promovida por meio de redes sociais.
As manifestações populares são legítimas
e saudáveis para a democracia. A população tem o direito de manifestar o seu
descontentamento com os governantes, ainda mais num país como o Brasil, repleto
de desigualdades sociais e de atitudes insensíveis por parte de suas elites
políticas. E quanto mais isso repercutir no exterior, tanto melhor. Ajuda a
mostrar uma faceta nova de uma realidade antiga e pouco conhecida do nosso
país.
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com