Pio
Penna Filho*
A internacionalização da guerra civil na
Síria está atingindo um novo patamar. Agora os russos prometem entregar um
sofisticado e poderoso sistema de mísseis para o governo do país e os europeus
acabaram de anunciar o fim do embargo de venda, ou melhor, de transferência de
armas para os rebeldes sírios. No fundo esses países estão alimentando a guerra
civil que está consumindo com o país.
A Síria está sendo destruída por dentro.
Impressiona ver as imagens de sua lenta destruição e atos de extrema barbaridade
pela internet. Basta digitar “guerra na Síria” no site Youtube e pronto, o
expectador terá à sua disposição cenas e mais cenas de horrores e destruição.
Cidades históricas que remontam à
antiguidade vem sofrendo pesados bombardeiros, tanto de disparos de armas
leves, de canhões, de blindados, de aviões e de helicópteros. Prédios, casas,
hospitais, mercados, nada está sendo poupado. Franco atiradores disparam contra
pessoas, bandos de rebeldes disparam seguidamente de alguma esquina e, por
outro lado, tropas do Exército revidam ou atacam com o mesmo furor. Milhares já
morreram e outros tantos agonizam lentamente, junto com o país.
Já não se trata apenas de um conflito
interno. A guerra na Síria está internacionalizada. Ao lado do governo
combatem, pelo que se tem divulgado, militantes do Hizbollah baseado no Líbano
e “instrutores iranianos”. Isso sem contar com o apoio diplomático e material
fornecido pelos russos. Já do lado dos insurgentes, combatem militantes
islâmicos de diversos países, quase todos ligados ao jihadismo. O chamado Exército Livre da Síria também recebe suporte
de governos de outros países que, naturalmente, não assumem sua
ajuda.
Não adianta querer tapar o sol com a
peneira. Por mais que alguns governos ocidentais insistam que não estão apoiando
os rebeldes, isso não parece bater com a realidade. Alguém está ajudando os
rebeldes com dinheiro, armas, munição e logística. Não fosse isso seria
impossível para o Exército Livre da Síria continuar em atividade após três
longos anos de conflito contra um Estado que possui, ou pelo menos possuía, um
Exército relativamente bem estruturado e equipado, sem contar com o seu poder e
supremacia aérea.
Fazer a guerra custa caro. Ninguém,
nenhum grupo ou país que não seja rico e tenha recursos à disposição, tem
condições de manter uma guerra durante muito tempo, ainda mais com as
características da guerra civil na Síria.
O que os estrangeiros estão fazendo é
alimentar a guerra e a destruição na Síria. É verdade que a legitimidade do
regime de Bashar al Assad está comprometida há muito tempo e que dificilmente
ele terá condições de se manter no poder, uma vez que a guerra está abrindo
novas feridas na sociedade síria. Será preciso, portanto, algum arranjo
político para que uma transição ocorra.
Mas os arautos da guerra estão falando
mais alto, na Síria e fora dela. O regime não aceita ceder, entregar o poder e
deixar a sociedade prosseguir. No plano externo, a política de sanções e
pressão foi substituída pela via da violência. O impasse político está promovendo
uma sangria talvez sem precedentes na história da Síria e os tambores da guerra
parecem não se cansar. Pobre povo sírio.
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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