Pio
Penna Filho*
Um dos principais grupos armados da
prolongada guerra civil da Somália promoveu uma espetacular e mortífera ação em
Nairóbi, capital do Quênia. Até agora os registros indicam 72 pessoas mortas,
entre militares, terroristas e civis, sendo que a grande maioria dos mortos são
civis que estavam no local do atentado, um sofisticado shopping center da
cidade.
O grupo que assumiu o atentado chama-se
“Al-Shabab” e entrou em operação em 2006, quando as chamadas “Cortes Islâmicas
da Somália” promoveram um arremedo de governo no país. Aliás, é de se notar que
a Somália é um típico caso de estado falido, sem governo efetivo e com a
população vivendo à mercê de grupos armados que controlam partes do país, o que
provoca uma enorme insegurança coletiva e dá margens ao surgimento e
proliferação de grupos radicais que tentam se impor por meio da violência.
O Quênia entra nessa história a partir do
momento em que suas Forças Armadas começaram a combater as milícias do Al-Shabab
em território somali. Na verdade, o Quênia foi envolvido na questão somali por
uma série de fatores, dentre eles pelo fato de possuir uma extensa fronteira
com a Somália e, por isso, sofrer diretamente as consequências da guerra civil
do vizinho, seja pelo fluxo de refugiados, seja pela ação dos grupos armados
islâmicos em seu território.
Há que se destacar também que além dos
aspectos regionais o Quênia foi, de certa forma, induzido pelos Estados Unidos
em sua cruzada contra o chamado “terrorismo internacional” a participar do
conflito na Somália, justamente como ocorreu com a Etiópia, outro país vizinho
da Somália que também sofria e sofre as consequências de fazer fronteira com um
estado falido.
Nos últimos anos tropas etíopes e
quenianas participaram diretamente de operações militares na Somália,
principalmente para combater as milícias da Al-Shabab. Esse é um dos motivos do
atentado no Quênia. Ocorre que agora a situação tende a piorar, haja vista que
provavelmente o governo do Quênia e as demais forças presentes na Somália, irão
ampliar a repressão especialmente contra a Al-Shabab, que por sinal está
oficialmente vinculada à rede Al-Qaeda.
A Al-Shabab não é um grupo fácil de
combater. Eliminá-la, então, pelo menos num cenário de curto ou médio prazo,
soa como um devaneio. O grupo está sofrendo uma enorme pressão na Somália por
parte de tropas estrangeiras e o atentado no Quênia é uma forma de dizer ao
mundo e aos somalis que sua capacidade operacional continua de pé.
O grande problema são os métodos adotados
pelo grupo. O terror predomina e os mais afetados são os civis. Os somalis já
vem sofrendo o infortúnio de ter que lidar com a sua presença em diversas
partes do país e agora o público externo se vê também vulnerável às suas ações.
Infelizmente a resolução desse conflito
não será pacífica. Embora a negociação passe por entendimentos políticos, esse
grupo só aceitará negociar quando já estiver em frangalhos, ou seja, quando não
houver mais como continuar a luta armada por meio do terrorismo.
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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