Pio
Penna Filho*
Mais um país africano de língua oficial
portuguesa se encontra numa situação delicada, de pré-guerra civil, com algumas
de suas regiões vivendo em alta tensão. Moçambique, que era visto até bem pouco
tempo atrás como um caso relativamente bem sucedido de resolução de conflito,
agora apresenta um perigoso recuo político que pode trazer de volta os horrores
da guerra para uma população já por demais sofrida.
Os principais atores políticos de
Moçambique são a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), que governa
hegemonicamente desde a independência, em 1975, e a Resistência Nacional
Moçambicana (Renamo), um movimento criado em 1977 que recebeu apoio da então
Rodésia do Sul (hoje Zimbábue) e da África do Sul quando ainda vigorava o apartheid.
A Renamo nasceu justamente para combater a
Frelimo, que naquela época professava o socialismo e se alinhava com a então
União Soviética, além de ser a favor do fim do regime do apartheid na África do Sul e contra o domínio da minoria branca na
vizinha Rodésia, daí o incentivo e apoio recebido pela Renamo por parte desses
dois países.
A guerra entre a Renamo e a Frelimo durou
de 1977 a 2002, tendo sido considerada uma das mais brutais do continente
africano durante a Guerra Fria. Foi um típico conflito desse período histórico
e prova disso é que chegou ao fim quando a Guerra Fria passava para a História.
Desde então Moçambique passou a viver sem
o horror da guerra, embora muitos dos seus problemas sociais e políticos não
tenham sido solucionados e nem sequer encaminhados. A economia moçambicana é muito
limitada, possuindo poucos produtos em sua pauta de exportações e o país é
altamente dependente de ajuda externa para se manter.
Entretanto, de alguns anos para cá o quadro
econômico de Moçambique tem mudado, com a intensificação de investimentos
externos em alguns setores específicos. Ganham destaque os investimentos
realizados no setor de mineração e na exploração de gás, principalmente a
partir da descoberta de novas e importantes jazidas. Existe também a
perspectiva da exploração de petróleo, mas ainda não se sabe se a exploração
será economicamente viável. Ainda em termos econômicos, é importante registrar
o crescimento do setor agrícola, o que reforça a economia do país.
Mas apesar de todas as perspectivas
econômicas o quadro social continua muito ruim. A maior parte da população
moçambicana não se vê contemplada com o crescimento econômico e os programas
sociais estão muito aquém das necessidades da sociedade.
Do ponto de vista político, o quadro geral
é de desgaste dos principais partidos e a retomada da violência é um sinal de
que as coisas não vão bem. Falta diálogo político entre as partes e a hegemonia
quase absoluta da Frelimo não ajuda em nada. É uma pena porque, justamente no
momento em que os indicadores econômicos começam a melhorar, o enfretamento
violento entre o governo e a Renamo torna o país instável internamente e é, ao
mesmo tempo, uma ameaça aos investidores externos.
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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