Pio
Penna Filho*
O Brasil é um país que se preocupa pouco
com a sua defesa. Nossas elites governantes, pelo menos no que diz respeito à
defesa nacional, não conseguem pensar além do curto prazo. Não fosse isso as
nossas Forças Armadas não estariam na situação que estão. Está aí uma
mentalidade que precisa ser alterada, haja vista que nesse campo o improviso e
o típico “jeitinho” brasileiro não costumam funcionar.
O Brasil é
um país que se destaca no seu espaço regional e também no cenário
internacional. Em tese aspiramos maior participação em ambos os contextos,
exercendo a liderança regional e participando mais ativamente das principais
decisões mundiais. Isso não é possível sem uma estrutura e um preparo militar
adequados.
Por mais boa vontade que exista entre os
altos escalões militares do país, nas três Forças, que se esmeram em deixar as
tropas aptas para atuarem em qualquer cenário de ameaça ao país, eles não podem
fazer mágica. Ou seja, sem os meios adequados para que se proceda à defesa do
país contra as novas ameaças, muito pouco pode ser feito, por mais empenho que
exista por parte das Forças Armadas.
A natureza da guerra mudou muito nas
últimas décadas, exigindo cada vez mais profissionalismo por parte dos
militares e a posse (e adestramento) de armamentos e outros instrumentos de
alta tecnologia, muitos dos quais nos faltam. Segurança e defesa custam caro,
mas isso não é motivo para um país como o Brasil deixar de investir nesses
setores. Certamente não faltam recursos, mas sim vontade política.
No Brasil, sucessivos governos (tucanos e
petistas) não tem tratado com a devida seriedade a questão da defesa nacional.
A explicação de que faltam recursos é apenas parcialmente correta. Embora não
existam recursos para um reaparelhamento completo das Forças Armadas, algo mais
do que tem sido destinado à Defesa certamente existe.
É possível argumentar que alguma coisa tem
sido feita e isso é correto. Em que pese a novela que foi a aquisição de aviões
de combate para substituir os caças existentes, é fato que nesse campo
avançamos com o anúncio da assinatura do acordo para a compra de 36 aviões de
combate Gripen, da indústria sueca SAAB. Mas ainda há muito mais a ser feito.
O ponto central, contudo, é a mudança de
mentalidade para que os assuntos relacionados à Defesa possam ser tratados como
uma preocupação permanente por parte do Estado brasileiro. O Brasil certamente
não almeja se tornar um país agressor ou expansionista, mas as suas dimensões e
importância estratégica demandam essa mudança de mentalidade.
O mundo em que vivemos não é exatamente um
mundo pacífico e se hoje as atenções das grandes potências se direcionam para
outras partes do globo, isso não quer dizer que num futuro próximo o cenário
continue o mesmo. Vale lembrar que o Brasil possui recursos que despertam o
interesse e a cobiça de outros países, como o petróleo e as muitas riquezas que
se encontram na Amazônia. A defesa nacional não pode ser vista apenas como uma
opção, ela é um imperativo e uma necessidade que demandam atualização e atenção
permanentes.
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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