Pio
Penna Filho*
As cenas são fortes: casas e prédios
destruídos, hospitais e ambulâncias atacados, homens, mulheres, idosos e
crianças mortos por um dos exércitos mais bem equipados e treinados do mundo.
Violações sistemáticas e indiscutíveis dos mais elementares direitos humanos
estão ocorrendo nesse momento na Palestina perpetrados pelo governo de Israel,
inclusive com suspeita de crimes de guerra.
A guerra da palestina, ou melhor, o
massacre na palestina de julho de 2014 entrará para a galeria da história como
mais uma das brutais ações promovidas pela estupidez humana.
Não bastasse a derrubada do avião da
Malaysia Air com seus quase trezentos mortos na semana passada, sem contar a
própria violência da guerra civil na Ucrânia e em tantas outras partes do mundo
(vale lembrar a quase já esquecida Síria), assistimos agora ao brutal e
indiscriminado massacre de palestinos na Faixa de Gaza.
Israel insiste em alegar que a culpa da
guerra, do massacre, é exclusivamente do movimento Hamas. Está apenas
parcialmente correto. Israel, por seus atos, resolveu dividir a infâmia com o
Hamas. Ambos estão errados. Ambos devem ser diretamente responsabilizados pela
violação do direitos humanos e pelo assassinato de centenas de pessoas.
O Hamas não deseja a paz com Israel. Suas
ações indicam que o grupo insiste na equivocada ideia da impossibilidade de que
palestinos e israelenses possam conviver em áreas contíguas. Insiste em
desafiar militarmente um Estado poderoso. Insiste em lançar foguetes e espalhar
o medo e o terror nas cidades israelenses.
Israel, por sua vez, faz da vida de
milhares de palestinos uma verdadeira tormenta. No dia a dia prevalece a
humilhação com os procedimentos de “segurança” impostos aos palestinos que, sem
alternativa econômica, são obrigados a procurar trabalho em Israel. Durante os
conflitos, como o atual, as Forças Armadas de Israel atacam alvos quase
indiscriminadamente, matando ou ferindo centenas de civis.
No plano externo, a ONU tem feito pouco
para encaminhar o problema entre israelenses e palestinos. Mas, no fundo, todos
sabemos como a ONU funciona e, principalmente, suas limitações. O problema,
portanto, não é exatamente a ONU, mas sim o comportamento dos Estados Unidos e,
eventualmente, dos seus aliados europeus.
É interessante observar que todas as
iniciativas internacionais para solucionar o conflito falharam. Algumas
provocaram alguns avanços, mas nada a ponto de resolver o problema da
Palestina. Portanto, enquanto não ocorrer uma mudança no
comportamento dos atores internacionais e regionais mais importantes, pouca
esperança restará para o povo palestino.
E é exatamente isso que alimenta
movimentos radicais como o Hamas. A falta de perspectiva é tão grande para a
comunidade palestina que alguns dos seus membros acabam acreditando que, de
fato, a única saída é por meio da violência.
Infelizmente não há nenhum cenário
positivo no curto e médio prazos para a questão palestina. O que estamos
assistindo hoje tem tudo para acontecer de novo e de novo, só para nos lembrar que
a intransigência política, o egoísmo e a estupidez humanas estão muito longe de
terminar.
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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