segunda-feira, 2 de julho de 2012

A Queda de Fernando Lugo


Autor: Pio Penna Filho


O impedimento do presidente Fernando Lugo, ocorrido no dia 22 de junho,

colocou o Paraguai no centro das atenções diplomáticas de toda a região. A maior

parte dos países sul-americanos se pronunciou de forma inequívoca contra a maneira

pela qual o processo de impeachment foi conduzido pelo parlamento paraguaio.

O principal argumento é que se tratou de um rito sumário, restringindo a

possibilidade de defesa do ex-presidente, o que teria resultado numa espécie de “golpe

parlamentar”, para usar uma expressão atribuída ao próprio Fernando Lugo.

Esse foi o primeiro impeachment e, possivelmente, não será o último na história

política paraguaia. Aliás, é bom lembrar que o processo de democratização do

Paraguai, após a longa ditadura de 35 anos do regime do general Alfredo Stroessner,

foi caracterizada por uma tumultuosa ação política, na qual não faltaram acusações

de corrupção no alto escalão, tentativas de golpe militar, assassinato de um vice-

presidente, processo de impeachment e renúncia presidencial. Portanto, talvez a

característica mais forte da política paraguaia seja a instabilidade institucional.

Fernando Lugo, ex-bispo da Igreja Católica, venceu as eleições gerais e

assumiu a presidência em 2008. Na época, sua vitória foi festejada por amplos setores

sociais paraguaios, principalmente entre os mais pobres, que viam nele a concreta

possibilidade de mudança social e renovação política.

Para muitos, o fato de ter derrotado o tradicional Partido Colorado, que já

governava o país há mais de sessenta anos, foi um sinal alvissareiro, que indicava o

Todavia, do ponto de vista político, um fato que não escapou aos analistas

mais atentos da política paraguaia de então, foi que Lugo venceu a eleição para o

Executivo mas não conseguiu emplacar uma vitória mínima no parlamento. A base

de sustentação do novo governo no legislativo foi irrisória, sinalizando que não

seria nada fácil governar o país e, principalmente, cumprir as promessas feitas aos

paraguaios durante a campanha eleitoral.

Não é necessário ser um cientista político para entender que o maior desafio de

sua gestão foi, sem dúvida, governar tendo à disposição uma minoria parlamentar.

Efetivamente, o ex-bispo, um iniciante no mundo da política partidária, não conseguiu

reunir condições de sustentabilidade para o seu governo, nem no parlamento e nem

tampouco junto aos movimentos sociais.

É relevante notar que o seu maior apoio político veio de fora do país. Para

muitos, a vitória eleitoral de Lugo sinalizava o alinhamento do Paraguai aos países

governados por presidentes considerados de “esquerda”, como Hugo Chávez, Evo

Morales, Rafael Correa e Luiz Inácio Lula da Silva.

O governo Lugo terminou com considerável apoio externo, mas sem suporte

político em seu próprio país. Muito pouco das suas promessas de campanha foram

cumpridas e o seu governo, em termos políticos, foi um desastre. A pressa com que

Fernando Lugo foi julgado e condenado talvez se deva exatamente ao receio de uma

coalização de fora que faria muito para impedir sua queda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário