Pio
Penna Filho*
Essa semana assistimos novas
manifestações violentas resultantes da intolerância religiosa. Muitos
muçulmanos se sentiram ofendidos pelo que consideraram um grande desrespeito
para com o Profeta Mohammed após tomarem conhecimento de um filme produzido nos
Estados Unidos e desencadearam violentos protestos em alguns países do Oriente
Próximo e Norte da África.
O filme, disponível no youtube e acessado
milhares de vezes, possui um claro viés desrespeitoso para com o Profeta, além
de uma mediocridade aviltante. Não se trata de um caso isolado, haja vista que
manifestações como essa, que buscam ridicularizar personalidades carismáticas
ou símbolos representativos da fé de muitas pessoas tem se repetido inúmeras
vezes.
Vale lembrar os episódios verificados no
Iraque e, mais recentemente, no Afeganistão, nos quais militares
norte-americanos vilipendiaram cadáveres de muçulmanos e queimaram exemplares
do Corão.
Houve também episódios na Europa, sendo
os mais conhecidos a publicação de cartoons sobre o Profeta na Dinamarca, a
produção de um filme considerado depreciativo também sobre o Profeto na Holanda
e, mais recentemente, a intolerância cultural e religiosa dirigida aos
muçulmanos na França que foram proibidos de usar a burca em escolas públicas.
Isso sem contar os repetidos atos de vandalismo e profanação geralmente
praticados contra alvos judaicos.
Outro tipo de intolerância que tem
ocorrido com certa frequência se dá no âmbito mesmo do mundo muçulmano. Não tem
sido incomum atos extremamente violentos dirigidos contra grupos muçulmanos de
correntes divergentes, como as agressões entre xiitas e sunitas, por exemplo.
O fato é que assistimos ultimamente ao
aumento da intolerância religiosa e geralmente envolvendo, com mais frequência,
o mundo muçulmano. É algo realmente preocupante porque a intolerância religiosa
quase sempre vem acompanhada de diferenças políticas, que tendem a
potencializar ainda mais a violência.
Não é absurdo afirmar que parte
substancial dessa intolerância parte do chamado ocidente cristão contra os
adeptos do islamismo. Não se tem notícia de que grupos muçulmanos vilipendiam
ou agridam, por exemplo, templos ou símbolos do cristianismo. Aliás, os
muçulmanos, desde a época do Profeta, reconhecem e respeitam a religião cristã.
O problema, portanto, é que a chamada
civilização ocidental, por arrogância e prepotência, mais do que por
incompreensão e ignorância, não tem respeitado a crença e a fé dos muçulmanos.
Há quase um abismo entre os mundos cristão e muçulmano, que via de regra
tiveram tensas relações desde o surgimento do Islã.
Ou o ocidente passa a respeitar os
muçulmanos, reconhecendo a sua fé, valores e costumes, ou o convívio entre
esses povos continuará a ser conflituoso e violento. É imperioso que busquemos
mais diálogo e compreensão, e isso também é dever da comunidade internacional.
A Organização da Nações Unidas deveria ter uma atitude mais ativa para fomentar
esse diálogo.
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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