Pio
Penna Filho*
A
Síria está em guerra e a contagem dos mortos, mesmo que imprecisa, já atinge um
número considerável: trinta mil em um ano e meio. Não é pouca coisa. Um dado
complementar importante é que, como quase sempre, os civis são os mais
atingidos e perfazem a maior parte dos mortos, isso sem contar o intenso fluxo
de refugiados que não para de crescer.
Assusta-nos
a incapacidade das Nações Unidas para encontrar uma solução para a guerra. Até
agora, não passamos de vagas declarações de apoio à “paz” e do veto no Conselho
de Segurança a qualquer possibilidade de intervenção oficial. Ou seja, a
comunidade internacional está imobilizada.
Porém,
o paradoxo maior é que a guerra civil síria já está internacionalizada há muito
tempo. Não se trata, portanto, de um conflito estritamente interno. Veja-se,
por exemplo, que a liderança militar do chamado Exército Livre da Síria operava
a partir da Turquia, naturalmente com o conhecimento e anuência das autoridades
turcas.
O
Irã é outro país diretamente envolvido e que não esconde sua opção pelo governo
de Bashar Al Assad. Oficialmente, admite a intervenção por meio da presença de
instrutores militares iranianos em solo sírio. Ainda apoiando a Síria temos o
governo russo, que possui interesses no país e patrocinou o veto no Conselho de
Segurança contra qualquer intervenção direta no país.
Os
insurgentes, por sua vez, também não estão sozinhos. Seria impossível manter
uma resistência armada tão prolongada sem contar com apoio externo, ainda mais
contra um governo que dispõe de recursos e não economiza na violência e na
repressão interna.
Eles
estão recebendo armas, munições, treinamento, suprimentos e voluntários que
para a Síria se dirigem provenientes de vários países, especialmente do mundo
árabe. Existem sérias suspeitas que alguns governos ocidentais vem mantendo
contatos secretos há vários meses com os insurgentes.
Fica
evidente, pois, que a guerra já está internacionalizada. Somente as
organizações internacionais e regionais não assumem maiores responsabilidades
porque possuem impedimentos legais, além da falta de vontade política para
incrementar a pressão por mudanças.
Todavia,
como bem lembrou um civil sírio ao reclamar da indiferença internacional para
com a sorte dos seus concidadãos, os Estados Unidos, como hiperpotência, quando
desejam não costumam pedir autorização a ninguém para fazer a guerra, mesmo que
seja criar uma guerra para acabar com outra.
E,
por último, existem aqueles países que assistem quase indiferentes ao que está
acontecendo na Síria, como é o caso do Brasil. Assim, para o governo brasileiro
não existe solução militar para a guerra. A saída é o dialogo, pensa a nossa
chancelaria, como se isso fosse possível com o governo Assad.
Triste
período que vive a Síria e o seu povo. Os últimos anos da tirania de Assad
serão lembrados pela história como um momento de muita dor e sofrimento.
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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