Pio
Penna Filho*
A
crise continua forte na Europa, sobretudo em alguns países que estão sentindo
de forma mais severa os seus efeitos. Dentre eles se destacam Espanha, Portugal
e Grécia, embora não sejam os únicos. Essa crise, segundo os especialistas,
ainda levará tempo para ser superada e os seus reflexos se prolongarão ainda
por vários anos.
Algumas
manchetes, coletadas de forma aleatória em jornais, nos dão a dimensão severa
da crise e seu impacto social: “Mais de 500 famílias são despejadas por dia na
Espanha”, “Grécia corre contra o tempo e busca aprovação de pacote”, “Portugal
sobe imposto de renda em 30% para cumprir metas de resgate” e “Maior sindicato
de Portugal convoca nova greve geral”, são alguns exemplos.
Acostumados
a um padrão de vida elevado, os europeus estão agora sentindo na pele o que é
viver com restrições. Aumentou o desemprego, a renda diminuiu, os preços e os
impostos subiram. Ou seja, a pobreza voltou e está presente após um ciclo de
prosperidade no velho continente.
As
implicações sociais da crise são grandes e já se fazem sentir na Europa e
alhures. Aqui no Brasil já percebemos o aumento do fluxo
de cidadãos europeus em busca de trabalho e melhores condições de vida. Quem
diria! Dez anos atrás eram os brasileiros que buscavam melhores condições na
Europa.
Certamente
a crise trará mais novidades políticas em vários países europeus. O próprio
processo de integração vem passando por sérios questionamentos por parte de
vários setores sociais europeus. Parece que há um quase consenso em apontar a
adoção da moeda única, o euro, como um dos principais vilões da crise. Mas isso
é pouco. O euro certamente teve e tem o seu papel na crise, mas por si só não a
explica totalmente.
Dentre
os possíveis cenários no médio e longo prazo, podemos vislumbrar a diminuição
da interdependência econômico-comercial das economias europeias. A economia
alemã, a mais dinâmica da Europa, caminha a passos largos para se conectar cada
vez mais com a China e com outros mercados fora da Europa. Certamente, isso
provocará impactos na ideia de um espaço econômico comunitário no âmbito
continental.
A
fase atual é muito mais de fragmentação. Estamos assistindo a um processo que
está comprometendo a união entre os países europeus e também a unidade política
de alguns desses países, sendo que esse fenômeno é especialmente forte na
Espanha. Muitos já não acreditam mais na Europa como unidade política e veem
justamente na União Europeia a principal fonte do seus problemas.
A
diminuição e mesmo a retração no processo de integração da Europa é um exemplo
do dinamismo da história. O que parecia consolidado há poucos anos atrás e que
era exemplo e inspiração de integração para vários outros blocos regionais está
se mostrando, aparentemente, um castelo de cartas.
Mas
o resultado final, de todo modo, só o tempo dirá. Os europeus tanto podem
retomar a integração, num novo patamar, quanto enfrentarem uma gradativa e
forte retração na ideia comunitária. O fato é que atualmente a principal
tendência é justamente essa última.
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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