Pio
Penna Filho*
Vem aí a Guerra da Síria. A guerra civil
está prestes a se tornar uma guerra com envolvimento direto de outros países,
especialmente Estados Unidos e França, que são os que se mostram mais decididos
a iniciarem bombardeios contra alvos sírios. Não há como prever, a partir do
início dos ataques, quanto tempo levará para que uma coalizão maior se forme e,
eventualmente, parta para uma escalada militar contra o governo de Bashar al-Assad.
O argumento utilizado pelos que desejam
bombardear a Síria é que o governo teria realizado ataques com armas químicas
e, portanto, deveria ser devidamente punido. De fato, todas as evidências
indicam que armas químicas foram usadas na Síria, porém, não há como saber,
pelo menos por enquanto e com certeza absoluta, quem foi o responsável pelo
ataque, se o governo ou se os rebeldes.
Os Estados Unidos e parte dos seus
aliados europeus estão convictos de que foi o governo. Naturalmente, tendo em
vista a desproporção entre os recursos à disposição do governo sírio e os
rebeldes, tudo indica que tenha sido mesmo o governo a usar esse tipo de
armamento contra a sua própria população, e não apenas uma única vez.
O problema é que a credibilidade dos
Estados Unidos não é das melhores. Basta lembrar, por exemplo, o falso argumento
usado para defenestrar do poder Saddam Hussein (que o Iraque teria armas de
destruição em massa e era, portanto, uma ameaça para o mundo).
Enquanto isso, as Nações Unidas
despacharam para a Síria uma missão com o objetivo de averiguar in loco a situação. O problema é que
essa missão não reuniu todas as condições necessárias para um veredito final sobre
a questão. É bem provável que o resultado oficial seja que, de fato, houve a
utilização de armas químicas na guerra, mas sem precisar quem as teria usado.
A resistência contra a anunciada
intervenção militar norte-americana é grande. Rússia e China, que possuem poder
de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas, já disseram que são contra
o ataque à Síria. Representantes dos dois países afirmaram que irão vetar
qualquer proposta de Resolução no Conselho de Segurança que autorize ataques à
Síria.
O uso de armas químicas é um crime, sem
dúvida. O uso desse tipo de armamento é condenado pela maioria dos países,
sendo que poucos não assinaram a Convenção de Paris de 1993 que proibiu a
preparação, fabricação, armazenamento e utilização dessas armas.
Foi a Primeira Guerra Mundial que chamou
mais a atenção do mundo para os efeitos perversos das armas químicas.
Utilizadas inicialmente pela Alemanha em 1915, logo outros beligerantes daquela
guerra começaram também a produzir e usar armas químicas. Mas a impressão
negativa foi tamanha, tanto entre os combatentes como entre a população civil,
que as grandes potências não a utilizaram mais umas contra as outras na Segunda
Guerra Mundial.
Uma intervenção militar norte-americana
limitada fará pouca diferença para os rumos da guerra na Síria. Como o governo
Obama está recalcitrante mesmo quanto a um ataque limitado, tudo indica que a
situação só tende a se agravar para a população síria, já por demais penalizada
pela brutalidade de uma guerra que já ultrapassou todos os limites.
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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