domingo, 15 de janeiro de 2012

A Colômbia e suas implicações no contexto sul-americano


Nos aspectos referentes à segurança na América do Sul, a Colômbia se encontra como um país preocupante e de grande discussão. Desde a sua independência do reino da Espanha em 1819, o Estado colombiano se viu dividido pela luta em busca do poder por seus dois principais partidos: o Conservador e o Liberal. Esta disputa acabou por ultrapassar os pleitos eleitorais e chegou às ruas, onde os partidários dos dois lados se enfrentavam por seus partidos.
Fruto de disputa entre os dois partidos, em 1948 iniciou-se o período conhecido como “La Violência”. Nesta fase da história colombiana, representantes dos dois partidos se digladiavam nas ruas colombianas, vitimando milhares de almas. A guerra civil somente teve seu fim quase 10 anos após seu inicio (1953) quando, após amplas negociações, os partidos Liberal e Conservador firmaram um acordo de governo para a Colômbia. O acordo que recebeu o nome deFrente Nacional representou tanto o fim de “La Violência” quanto a divisão de poder entre os dois partidos. Pelo acordo o Estado colombiano foi dividido entre os conservadores e liberais que se dividiram no poder. A Frente Nacional se caracterizou pela ilegalidade dos outros partidos colombianos como o Partido Comunista Colombiano e a perseguição aos pequenos agricultores (camponeses e indígenas), que perdiam suas terras para os grandes produtores, latifundiárias que eram beneficiados pela proteção do governo.
Surgidos como uma alternativa contra os desmandos da Frente Nacional, a partir do final da década de 1950, começaram a se formar no interior do país guerrilhas agrárias de esquerda, formadas pelos pequenos agricultores. O movimento guerrilheiro colombiano inicia neste período uma das características mais marcantes da Colômbia, aquela que dura até os dias de hoje: o conflito armado entre Estado e guerrilhas.
No ano de 1964, após um ataque de centenas de soldados do Exército Colombiano a região de Marquetália, surge o principal movimento guerrilheiro colombiano. Inspirado pela linha marxista-leninista e apoiada pelo clandestino Partido Comunista Colombiano ( PCC), foi formado sob a liderança de Manuel Marulanda as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo ( FARC-EP).
Outro movimento guerrilheiro surgido neste período foi o Exército de Libertação Nacional (ELN). Este teve suas ações iniciais fundadas principalmente no Departamento de Santan-Castanho, onde por meio de pilhagens e ataques a prédios públicos em pequenas cidades, se firmou como um influente movimento guerrilheiro deste país.
O contexto do conflito entre o governo colombiano e os movimentos guerrilheiros aqui apresentados, e outros como o movimento 19 de Abril (M-19) e o Exército Popular de Libertação (EPL), enfraqueceram ainda mais o já debilitado Estado colombiano. Estes fatos transformaram a Colômbia em local propício para o mercado mundial de drogas, que a partir do fim dos anos de 1970 se fortaleceu neste país e se colocou como fonte de renda para os camponeses pobres do interior e para a guerrilha que passou a usa-lo como principal fonte de seu ´´financiamento revolucionário“. Para que se pudesse produzir coca – principal componente da cocaína – nos territórios dominados pelas guerrilhas, os produtores (traficantes) foram obrigados a pagar uma taxa, uma espécie de imposto para a guerrilha.
Também deste contexto, grupos armados se formaram financiados pelos grandes plantadores de coca que se recusavam a pagar as taxas impostas pela guerrilha. Os objetivos destes grupos, chamados de Paramilitares, eram o de perseguir os grupos guerrilheiros e seus simpatizantes, assim como proteger os grandes latifundiários de coca contra possíveis ataques guerrilheiros. Os paramilitares reunidos da década de 1990 como as Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), foram acusados por órgãos de direitos humanos por inúmeros crimes. Na busca por seus inimigos guerrilheiros, estes grupos armados assassinaram centenas de civis/camponeses pobres que não estavam diretamente ligados no conflito.
As tentativas de se estabelecerem a paz e finar o conflito foram fontes de diversas propostas ao longo da década de 1980 e estavam quase que totalmente estagnadas por toda a década de 1990. Entretanto, foi à promessa de diálogos com a guerrilha e a promoção da paz na Colômbia, que elegeu nas eleições de 1998 o candidato Andrés Pastrana. Com um programa de governo que tinha como carro-chefe o fim do conflito e outras diversas ações sociais, como a substituição das culturas de coca por outras lícitas, o governo de Pastrana foi visto por muitos colombianos como um importante passo para o fim dos males que acompanhavam a muitos anos a Colômbia.
Assim que assumiu o poder, Pastrana abre uma mesa de diálogos com a guerrilha e juntamente com seus ministros e alguns agentes internacionais, lançou o chamado ´´Plano Colômbia“. Este plano, que nada mais era que uma série de ações e metas para as negociações, teve em sua elaboração um grande auxilio do governo dos Estados Unidos que via com preocupação o conflito armado colombiano. Além da luta armada, outra preocupação norte-americana era o tráfico, pois a Colômbia era o maior fornecedor da cocaína para os Estados Unidos.
Apresentado, como já dito, como uma alternativa de paz e de substituição das plantações ilegais, o Plano Colômbia alem de ambicioso era de alto custo, visto que o trafico de drogas trazia para a Colômbia lucro exorbitantes, realmente, seria difícil substituí-lo. Assim, todo o custo do Plano foi avaliado em aproximadamente 7,5 bilhões de dólares. O valor seria arrecadado, principalmente, através de empréstimos e privatizações do governo colombiano e ainda, através da ajuda de outros países que assim como os EUA, enxergavam o problema colombiano como um problema mundial.
O presidente Pastrana chegou até mesmo a ceder uma parte do território colombiano a guerrilha, como forma de mostrar sua disposição às negociações, transformando esta área (do tamanho da Suíça) em uma área desmilitarizada, ou seja, um território neutro para as negociações de paz. Mas mesmo com toda a boa intenção do governo em promover a paz, o Plano Colômbia acabou não dando certo sendo ainda alvo de inúmeras criticas no âmbito das Relações Internacionais, principalmente pelos riscos que trouxe aos países vizinhos a Colômbia, que acabaram por se tornar alvo de contingentes guerrilheiros, assim como também de refugiados colombianos.
Estas fugas e ataques se estabeleceram principalmente após os ataques do 11 de setembro. A partir desta data o governo dos EUA passaram a classificar os grupos guerrilheiros e paramilitares da Colômbia, como terroristas, o que mudou completamente suas influencias sobre o conflito.
Com estas mudanças na classificação, o governo dos EUA passaram a pressionar o Estado Colombiano para ações mais energéticas para com os grupos insurgentes. Com ameaças de corte da ajuda financeira norte-americana, coube ao governo colombiano acatar as imposições e mudar totalmente o foco de suas ações. Estas mudanças se deram de duas maneiras: a primeira foi uma maior militarização do conflito, com ataques às guerrilhas e um melhor aparato armamentistico para o Exercito Colombiano. A segunda mudança foi a eliminação das plantações de coca, com o uso de herbicidas, o que acabou por extinguir, alem da coca, outras culturas de subsistência dos pequenos produtores.
Nesse sentido, a Colômbia, por seu histórico de violência, guerrilhas e drogas, acaba por se tornar um problema para a América do Sul e em especial para o Brasil que faz fronteira com este país em uma de região pouco habitada, tornando-se alvo fácil de possíveis incursões guerrilheiras da região amazônia brasileira.

Autor: Carlos Roberto Benjoino da Silva 

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