terça-feira, 1 de outubro de 2013

Os Estados Unidos e a Política Mundial

Pio Penna Filho*

O governo do presidente Obama, prêmio Nobel da “Paz”, está com todo o seu poderoso dispositivo militar pronto para atacar a Síria. Ao mesmo tempo, esse mesmo governo ampliou de forma espetacular os tentáculos de sua espionagem em escala global, bisbilhotando a tudo e a todos, como vem sendo mostrado pela divulgação de sua própria documentação. Abaixo, algumas conclusões sobre a atuação dos Estados Unidos na política mundial à luz da sua prática.
Os Estados Unidos agem como se fossem um Império. A política externa norte-americana é agressiva com amigos e inimigos. A vontade imperial de Washington se estende para todo o globo e sua visão predominante é a de que o mundo deve se dobrar aos desígnios da grande potência do norte, não havendo força ou ideal superior à dos Estados Unidos em qualquer canto do mundo. Ademais, o Império está pronto para intervir em quase qualquer situação, em qualquer lugar, por isso sua excepcional força militar, notadamente de projeção de poder. 
Os Estados Unidos agem desprezando as normas internacionais. As normas internacionais valem muito pouco para limitar o poder de Washington. Se a estrutura de poder internacional erigida em torno do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que legitima políticas de intervenção, não atender aos anseios dos Estados Unidos, isso não é problema. A intervenção poderá acontecer sem aprovação do Conselho, haja vista que os interesses americanos estão acima da “lei”, o que aliás reforça a ideia imperial.
Os Estados Unidos agem como se quase todos fossem seus inimigos. O que vale para os Estados Unidos são os seus interesses. Washington leva ao pé da letra a máxima de que, em termos de política externa, o que vale são os interesses. Dessa forma, quem é “amigo” hoje pode não ser amanhã; ou quem foi amigo ontem pode não ser hoje. Assim, a espionagem americana não tem limites, embora receba a colaboração de alguns poucos países hoje considerados amigos, embora amigos subalternos.
Os Estados Unidos agem de acordo com a força e apenas entendem a linguagem da força. A única imunidade com relação à política imperial dos Estados Unidos reside em ter força suficiente para uma retaliação militar que cause impacto na sociedade norte-americana. Meios limitados, como o dos afegãos que resistem há tempos à ocupação de tropas dos Estados Unidos e da OTAN não são suficientes. Assim, apenas os países que possuem arsenal nuclear estratégico, com capacidade real para atingir o território norte-americano, estão fora do radar intervencionista do império.
O que estamos assistindo ultimamente é que se esboça uma reação difusa, em escala global, à essa política imperial, eivada de contradições, sobretudo por serem os norte-americanos os grandes defensores da democracia e da liberdade.
Não existem muitas ilusões de que essa reação difusa seja capaz de mudar os rumos da política externa norte-americana. O problema é que estamos chegando a um ponto em que muitos países e lideranças estão constatando o óbvio, ou seja, que a linguagem da força e do poder prevalece sobre o diálogo. Não é à toa que quem está se contrapondo de forma mais intensa aos Estados Unidos seja justamente a Rússia.






* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com

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