Pio
Penna Filho*
Segunda-feira, 6 de agosto de 1945, pouco
depois das oito horas da manhã os americanos lançaram uma bomba atômica sobre a
cidade japonesa de Hiroshima. No dia 09 do mesmo mês, porém um pouco mais tarde,
mas ainda pela manhã, foi a vez da cidade de Nagasaki. Milhares de pessoas
morreram instantaneamente. Outras milhares morreram mais lentamente, até mesmo
muitos anos após os eventos dos dias 06 e 09 de agosto.
Os Estados Unidos cometeram um verdadeiro
crime contra a humanidade no Japão. Os lançamentos das bombas atômicas, uma de
urânio e outra de plutônio, poderiam tranquilamente terem sido evitados. Mas os
americanos queriam mostrar ao mundo a sua nova e formidável arma. Queriam
também castigar o Japão pelo ataque à base naval de Pearl Harbor, que
desencadeou a guerra entre os dois países.
A decisão de lançar as bombas não foi
baseada apenas levando em conta os objetivos militares norte-americanos. Ela
teve, na verdade, um forte componente político, que era o de mostrar aos
soviéticos e ao mundo quão poderoso eram os Estados Unidos ao final da Segunda
Guerra Mundial.
O presidente dos Estados Unidos, assim
como os cientistas e as pessoas diretamente envolvidas no programa nuclear,
estavam plenamente cientes que haviam construído uma arma com potencial nunca
antes visto e que o seu impacto seria apavorante. Aliás, a escolha dos alvos
nos revela até onde pode ir a maldade humana, especialmente em tempos de
guerra.
Hiroshima foi uma cidade relativamente tranquila
durante toda a guerra. Praticamente não sofreu ataques aéreos convencionais
norte-americanos e sua população estava um tanto despreocupada com a
possibilidade de se tornar alvo direto de um ataque. Daí é possível imaginar a
surpresa de sua população quando a bomba explodiu, ainda mais porque ninguém
conseguiu compreender que arma era aquela que havia produzido um efeito tão
devastador e estranho.
A ideia era justamente essa: usar a cidade
japonesa de Hiroshima como um balão de ensaio para verificar o resultado de um
ataque nuclear real. O que aconteceria com a infraestrutura da cidade? Qual
seria a real dimensão do poder destrutivo da bomba? Quantas pessoas ela poderia
matar de uma só vez? Essas e outras dúvidas precisavam ser respondidas com uma experiência
concreta. Quanto mais destrutiva, quanto mais pessoas mortas, melhor para a
propaganda norte-americana.
Não satisfeitos com o ataque a Hiroshima,
os Estados Unidos atacaram Nagasaki com um novo artefato nuclear. Aí o crime se
materializa de vez, porque as notícias sobre os horrores ocorridos em Hiroshima
já haviam se espalhado e os Estados Unidos já tinham uma ideia mais precisa
sobre os efeitos da bomba. Caso os japoneses não se rendessem, muito
provavelmente outra bomba seria lançada. Talvez até mais de uma.
Hoje, os arsenais nucleares são muito mais
vastos e as bombas e ogivas muito mais poderosas do que aquelas lançadas no
Japão em 1945. Norte-americanos, russos, chineses, franceses, ingleses,
paquistaneses, indianos, israelenses e norte-coreanos possuem sofisticadas
bombas atômicas.
É até compreensível que tenhamos chegado
ao ponto que chegamos, sobretudo porque a humanidade é movida, em grande
medida, por sentimentos nada nobres, como bem nos ensina a História. A lição que
fica é que, infelizmente, não se deve duvidar, de jeito nenhum, da maldade
humana. Caso os Estados Unidos tivessem perdido essa guerra, certamente os seus
dirigentes seriam julgados e condenados por crimes contra a humanidade.
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB),
Pesquisador do CNPq e do Centro de Estudos Estratégicos do Exército
Brasileiro (CEEEX). E-mail: piopenna@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário