Pio
Penna Filho*
As últimas imagens de pessoas desesperadas
tentando chegar ao espaço europeu tem chamado a atenção internacional para o
fenômeno dos deslocamentos humanos recentes. São cenas chocantes de milhares de
pessoas que tentam a todo o custo entrar na Europa em busca de melhores
condições de vida, mesmo que isso lhes custe a própria vida.
Essas pessoas se dividem, basicamente, em
dois grupos. Há o grupo dos refugiados, que geralmente saem de países que
passam por conflitos e guerras civis, como são os casos da Síria e do
Afeganistão, e o grupo dos imigrantes, sendo que este último reúne pessoas que
desejam uma oportunidade em algum país estável e desenvolvido.
A relativa proximidade geográfica, o nível
de desenvolvimento e a possibilidade de um recomeço de vida são os principais
atrativos identificados por imigrantes e refugiados que buscam a Europa. Lá
parece ser, para muitos, uma terra promissora, uma espécie de novo “eldorado”.
O problema é que a Europa, assim como qualquer
outra região do mundo, não está preparada para receber um fluxo tão grande de
pessoas num período tão curto de tempo. Em termos financeiros os custos para
manter uma população nova, ainda em fase de estabelecimento e adaptação, são
muito elevados.
Mas há também o problema do choque
cultural. A maioria dos refugiados e imigrantes são provenientes de culturas
muito distintas das europeias e o choque é inevitável, sobretudo com problemas
de discriminação e preconceito. Assim, a humilhação se associa à
vulnerabilidade dessas pessoas quando elas conseguem chegar à Europa.
Não há solução a curto prazo para esse
problema. Não adianta os europeus tentarem “fechar” as suas fronteiras com
arame farpado, com muros, com dispositivos militares e coisas afins. A pressão
continuará e a tendência é que esses fluxos aumentem, pelo menos ainda por um
tempo.
A única saída, e essa demanda tempo, é
tentar levar estabilidade política e algum desenvolvimento econômico para as
principais regiões de onde partem esses imigrantes e refugiados. Enquanto isso
não mudar, todas as políticas de contenção do problema estarão fadadas ao
insucesso. E isso, como se sabe, não acontece e nem acontecerá da noite para o
dia.
Há muita desigualdade no mundo
contemporâneo. Vivemos numa era globalizada, em que o mundo parece ter
encolhido, diminuído, e se tornado mais interdependente e desigual, e isso
coloca em evidência o grande contraste entre os ricos e os pobres. A busca por
melhores condições de vida é legítima e natural para o ser humano. O mundo,
portanto, não pode fechar os olhos deliberadamente para o sofrimento de tanta gente.
Esse problema não é apenas da Europa, é
bom que se diga. É um problema global e que requer, portanto, uma resposta
global.
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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