Pio
Penna Filho*
O conflito político na Ucrânia parece
caminhar para um cenário desastroso. O envolvimento de potências ocidentais nas
disputas políticas ucranianas acabou forçando a Rússia a tomar posição clara na
defesa dos seus interesses, o que a colocou em rota de colisão com os países
membros da OTAN, sinalizando para uma perigosa escalada militar.
Desde a queda do governo do ex-presidente
Victor Yanukovich e da anexação da Crimeia pela Rússia, o que se observa é que
a conjuntura política se deteriorou, com a radicalização de setores pró-russos
se opondo cada vez mais violentamente contra nacionalistas ucranianos.
A expectativa inicial de uma acomodação
política que pudesse de alguma forma contornar a crise não se verificou, pelo
menos não até agora. Assim, assistimos a polarização do discurso opondo os
ucranianos pró-Ocidente versus os pró-Russos.
Nesse meio tempo, medidas de força foram
tomadas por ucranianos de fala russa que se sentem inseguros diante dos grupos
que tomaram o poder em Kiev. Com apoio disfarçado ou declarado do governo
russo, esses grupos se sentiram fortes o suficiente para reivindicar claramente
a separação dos territórios predominantemente habitados por eles frente à parte
mais ocidental do país, justamente onde se localiza a capital, Kiev.
Já o governo ucraniano foi buscar no
Ocidente (entre europeus e norte-americanos) apoio contra o que entendem ser
uma ingerência da Rússia nos assuntos internos do país. Além do apoio
financeiro para reorganizar as finanças de um país em crise e manter o que sobrou
da máquina administrativa em funcionamento, buscam também suporte militar
diante de uma possível intervenção militar russa nas áreas mais próximas entre
os dois países, ou seja, onde há maioria de população de fala russa.
O grande problema é que as diferenças
entre os ucranianos passou por um processo de internacionalização que colocou
em lados opostos forças poderosas. De um lado, a Rússia interviu e anexou a
Crimeia, além de prestar o seu apoio a movimentos separatistas. De outro, os
Estados Unidos e a OTAN ensaiam uma política de confrontação contra o que
entendem ser um movimento de expansão dos interesses russos em direção à
Ucrânia.
Esse cenário é muito perigoso porque pode
levar a uma confrontação direta entre a OTAN e a Rússia na Ucrânia, com
consequências imprevisíveis. Ao longo da história outros graves conflitos
começaram de forma similar, isto é, uma disputa em um país periférico acabou
envolvendo e arrastando grandes potências para a guerra.
É preciso, portanto, acompanhar com muita
atenção e cuidado a evolução da crise ucraniana, antes que seja tarde demais
para conter espíritos mais belicosos. Nesse sentido, a ONU deveria estar mais
atenta para tentar mediar o conflito enquanto ainda é tempo.
Por ora, estamos assistindo a acusações
recíprocas entre russos e norte-americanos de quebra dos acordos já celebrados
para tentar conter uma evolução negativa da crise. Se não sairmos rápido desse
patamar, talvez muito em breve seja tarde demais para se evitar mais uma guerra,
que tem todo o potencial para ser uma guerra de grandes e graves proporções.
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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