Pio
Penna Filho*
A recente visita do Papa Francisco à Terra
Santa despertou preocupações com a possibilidade de atos violentos por parte de
setores radicais, principalmente da comunidade judaica. Felizmente, a viagem
transcorreu de forma tranquila, sem maiores sobressaltos.
O Papa, além de líder religioso dos
católicos, é também um Chefe de Estado. O Vaticano não possui as principais
características da maior parte dos Estados, como o Brasil, mas é um ator
internacional e possui atribuições políticas importantes. Aliás, é até mesmo
curioso notar que o Vaticano é um ponto de referência na política internacional
e frequentemente recebe importantes Chefes de Estado.
Pois bem, durante sua visita à Terra Santa
o Papa demonstrou grande equilíbrio político ao pregar a paz e reconhecer,
simultaneamente, a necessidade da criação de um Estado palestino efetivo e o
direito de existência do Estado de Israel.
Aparentemente trata-se de algo muito
óbvio. O problema é que, na prática, e considerando o histórico da relações
entre palestinos e israelenses, o bom senso é sempre deixado para trás.
O Papa Francisco é um líder espiritual que
vem ganhando cada vez mais respeito no meio internacional. Trata-se de um Papa
diferente, mais preocupado com as questões sociais e que pretende renovar a
Igreja Católica, dando-lhe um caráter mais moderno mas sem perder o seu
conteúdo religioso. Tudo isso credencia o Papa a ser um interlocutor de peso
nas relações internacionais.
A receptividade que o Papa teve nos países
visitados é um claro indicador do respeito que representantes e fiéis de outras
religiões nutrem por Sua Santidade. Ele foi bem recepcionado tanto por
muçulmanos quanto por judeus.
Talvez a grande contribuição papal para a
complexa questão que envolve palestinos e israelenses seja a promoção do
diálogo. A convite dele, ambos os lados concordaram em visitar o Vaticano e a
dar continuidade às negociações diplomáticas.
Pode-se questionar até que ponto esse tipo
de negociação poderá levar a resultados práticos, mas é melhor manter o diálogo
do que perseverar com medidas de força que só aumentam a violência e o
sofrimento de milhares de pessoas.
Na Terra Santa importantes religiões como
o Cristianismo, o Islamismo e o Judaísmo se encontram desde tempos remotos. Lá
estão localizados importantes templos revestidos de especial significado para
os fiéis de todas essas religiões e não há possibilidade de exclusivismos, ou
seja, o convívio é algo inerente, um fato dado. Conviver, portanto, não é um
opção, é um imperativo.
Certamente o Papa não tem a solução para
os problemas políticos que envolvem palestinos e judeus, mas sua atitude
conciliatória, de intermediador, pode ajudar muito. O mundo precisa de
mediadores, de pessoas que preguem a paz e se imponham por seu exemplo. O Papa
Francisco vem se destacando gradativamente na cena internacional como uma
pessoa de boa índole, com carisma e exemplos pessoais.
Que sua missão possa abrir os corações ainda duros e marcados por tanta violência.
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
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