Pio
Penna Filho*
O Boko
Haram é um grupo terrorista surgido na Nigéria por volta de 2002, quando
iniciou ações violentas. Sua liderança parte da premissa de que é necessário
impor aos países africanos a sharia, ou lei islâmica. São totalmente contra os
princípios Ocidentais, sendo que a expressão “boko haram” significa “a educação
não islâmica é pecado”.
A
partir dessa ideia, escolheram como forma de luta o terror contra populações
civis, que se tornaram alvo principal de suas ações. Assassinatos, sequestros,
estupros e atentados a bomba são os métodos mais utilizados pelo grupo.
A
reação do governo nigeriano tem se demonstrado ineficaz para erradicar o grupo
ou mesmo para limitar suas ações. As forças de segurança nigerianas já se
confrontaram diversas vezes com o Boko Haram tendo, inclusive, eliminado o
líder do grupo em 2009. Mas a falta de continuidade na repressão sistemática ao
grupo permitiu sua recomposição e uma escalada em suas ações violentas.
O Boko
Haram não é um grupo insurgente qualquer. Seus militantes são dedicados a uma
causa impossível de ser alcançada e, mesmo assim, demonstram fidelidade incomum
aos ideais radicais que pregam e aos seus líderes. Da mesma forma, seus métodos
são ultraviolentos e estão longe de obter qualquer apoio popular para a causa.
É
importante, nesse sentido, observar que o Boko Haram não conta com apoio da
maior parte da população das regiões onde atua, mesmo considerando que são
regiões predominantemente muçulmanas. Sua base de apoio principal vem de outros
grupos radicais, dentro e fora da África.
Para
erradicar o Boko Haram certamente o governo da Nigéria deverá contar com apoio
externo. Com o sequestro das meninas nigerianas o Boko Haram facilitou, e
muito, o caminho para que o governo nigeriano tome atitudes mais firmes para
reprimir o grupo. A comoção internacional em torno desse sequestro e os assombrosos
relatos das meninas que conseguiram fugir realçam a necessidade de uma ação
firme e decidida no combate ao terrorismo no norte da Nigéria.
Naturalmente
não será uma missão fácil, mas o fato é que o governo da Nigéria precisa lidar
de maneira mais efetiva contra o Boko Haram e seus associados. Já está provado
que não há negociação política aceitável pelos terroristas islâmicos que atuam
no país e a única saída é a eliminação desse grupo.
A Nigéria
é um país bem estruturado para os padrões africanos e possui recursos
suficientes para que o Estado consiga se impor sobre grupos radicais como esse.
O que falta é basicamente decisão política e apoio externo. Aparentemente ambos
estão agora mais do que do disponíveis para o governo, mas só o tempo nos dirá
se o sacrifício imposto às meninas da Nigéria terá sido em vão ou não.
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário