segunda-feira, 9 de junho de 2014

O Boko Haram e as Meninas da Nigéria

Pio Penna Filho*

O Boko Haram é um grupo terrorista surgido na Nigéria por volta de 2002, quando iniciou ações violentas. Sua liderança parte da premissa de que é necessário impor aos países africanos a sharia, ou lei islâmica. São totalmente contra os princípios Ocidentais, sendo que a expressão “boko haram” significa “a educação não islâmica é pecado”.
A partir dessa ideia, escolheram como forma de luta o terror contra populações civis, que se tornaram alvo principal de suas ações. Assassinatos, sequestros, estupros e atentados a bomba são os métodos mais utilizados pelo grupo.
A reação do governo nigeriano tem se demonstrado ineficaz para erradicar o grupo ou mesmo para limitar suas ações. As forças de segurança nigerianas já se confrontaram diversas vezes com o Boko Haram tendo, inclusive, eliminado o líder do grupo em 2009. Mas a falta de continuidade na repressão sistemática ao grupo permitiu sua recomposição e uma escalada em suas ações violentas.
O Boko Haram não é um grupo insurgente qualquer. Seus militantes são dedicados a uma causa impossível de ser alcançada e, mesmo assim, demonstram fidelidade incomum aos ideais radicais que pregam e aos seus líderes. Da mesma forma, seus métodos são ultraviolentos e estão longe de obter qualquer apoio popular para a causa.
É importante, nesse sentido, observar que o Boko Haram não conta com apoio da maior parte da população das regiões onde atua, mesmo considerando que são regiões predominantemente muçulmanas. Sua base de apoio principal vem de outros grupos radicais, dentro e fora da África.
Para erradicar o Boko Haram certamente o governo da Nigéria deverá contar com apoio externo. Com o sequestro das meninas nigerianas o Boko Haram facilitou, e muito, o caminho para que o governo nigeriano tome atitudes mais firmes para reprimir o grupo. A comoção internacional em torno desse sequestro e os assombrosos relatos das meninas que conseguiram fugir realçam a necessidade de uma ação firme e decidida no combate ao terrorismo no norte da Nigéria.
Naturalmente não será uma missão fácil, mas o fato é que o governo da Nigéria precisa lidar de maneira mais efetiva contra o Boko Haram e seus associados. Já está provado que não há negociação política aceitável pelos terroristas islâmicos que atuam no país e a única saída é a eliminação desse grupo.
A Nigéria é um país bem estruturado para os padrões africanos e possui recursos suficientes para que o Estado consiga se impor sobre grupos radicais como esse. O que falta é basicamente decisão política e apoio externo. Aparentemente ambos estão agora mais do que do disponíveis para o governo, mas só o tempo nos dirá se o sacrifício imposto às meninas da Nigéria terá sido em vão ou não.


















* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com

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