domingo, 7 de outubro de 2012

Intolerâncias


Pio Penna Filho*

Essa semana assistimos novas manifestações violentas resultantes da intolerância religiosa. Muitos muçulmanos se sentiram ofendidos pelo que consideraram um grande desrespeito para com o Profeta Mohammed após tomarem conhecimento de um filme produzido nos Estados Unidos e desencadearam violentos protestos em alguns países do Oriente Próximo e Norte da África.
O filme, disponível no youtube e acessado milhares de vezes, possui um claro viés desrespeitoso para com o Profeta, além de uma mediocridade aviltante. Não se trata de um caso isolado, haja vista que manifestações como essa, que buscam ridicularizar personalidades carismáticas ou símbolos representativos da fé de muitas pessoas tem se repetido inúmeras vezes.
Vale lembrar os episódios verificados no Iraque e, mais recentemente, no Afeganistão, nos quais militares norte-americanos vilipendiaram cadáveres de muçulmanos e queimaram exemplares do Corão.
Houve também episódios na Europa, sendo os mais conhecidos a publicação de cartoons sobre o Profeta na Dinamarca, a produção de um filme considerado depreciativo também sobre o Profeto na Holanda e, mais recentemente, a intolerância cultural e religiosa dirigida aos muçulmanos na França que foram proibidos de usar a burca em escolas públicas. Isso sem contar os repetidos atos de vandalismo e profanação geralmente praticados contra alvos judaicos.
Outro tipo de intolerância que tem ocorrido com certa frequência se dá no âmbito mesmo do mundo muçulmano. Não tem sido incomum atos extremamente violentos dirigidos contra grupos muçulmanos de correntes divergentes, como as agressões entre xiitas e sunitas, por exemplo.
O fato é que assistimos ultimamente ao aumento da intolerância religiosa e geralmente envolvendo, com mais frequência, o mundo muçulmano. É algo realmente preocupante porque a intolerância religiosa quase sempre vem acompanhada de diferenças políticas, que tendem a potencializar ainda mais a violência.
Não é absurdo afirmar que parte substancial dessa intolerância parte do chamado ocidente cristão contra os adeptos do islamismo. Não se tem notícia de que grupos muçulmanos vilipendiam ou agridam, por exemplo, templos ou símbolos do cristianismo. Aliás, os muçulmanos, desde a época do Profeta, reconhecem e respeitam a religião cristã.
O problema, portanto, é que a chamada civilização ocidental, por arrogância e prepotência, mais do que por incompreensão e ignorância, não tem respeitado a crença e a fé dos muçulmanos. Há quase um abismo entre os mundos cristão e muçulmano, que via de regra tiveram tensas relações desde o surgimento do Islã.
Ou o ocidente passa a respeitar os muçulmanos, reconhecendo a sua fé, valores e costumes, ou o convívio entre esses povos continuará a ser conflituoso e violento. É imperioso que busquemos mais diálogo e compreensão, e isso também é dever da comunidade internacional. A Organização da Nações Unidas deveria ter uma atitude mais ativa para fomentar esse diálogo.



* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com

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