domingo, 7 de outubro de 2012

Trinta Mil Mortos


Pio Penna Filho*


A Síria está em guerra e a contagem dos mortos, mesmo que imprecisa, já atinge um número considerável: trinta mil em um ano e meio. Não é pouca coisa. Um dado complementar importante é que, como quase sempre, os civis são os mais atingidos e perfazem a maior parte dos mortos, isso sem contar o intenso fluxo de refugiados que não para de crescer.
Assusta-nos a incapacidade das Nações Unidas para encontrar uma solução para a guerra. Até agora, não passamos de vagas declarações de apoio à “paz” e do veto no Conselho de Segurança a qualquer possibilidade de intervenção oficial. Ou seja, a comunidade internacional está imobilizada.
Porém, o paradoxo maior é que a guerra civil síria já está internacionalizada há muito tempo. Não se trata, portanto, de um conflito estritamente interno. Veja-se, por exemplo, que a liderança militar do chamado Exército Livre da Síria operava a partir da Turquia, naturalmente com o conhecimento e anuência das autoridades turcas.
O Irã é outro país diretamente envolvido e que não esconde sua opção pelo governo de Bashar Al Assad. Oficialmente, admite a intervenção por meio da presença de instrutores militares iranianos em solo sírio. Ainda apoiando a Síria temos o governo russo, que possui interesses no país e patrocinou o veto no Conselho de Segurança contra qualquer intervenção direta no país.
Os insurgentes, por sua vez, também não estão sozinhos. Seria impossível manter uma resistência armada tão prolongada sem contar com apoio externo, ainda mais contra um governo que dispõe de recursos e não economiza na violência e na repressão interna.
Eles estão recebendo armas, munições, treinamento, suprimentos e voluntários que para a Síria se dirigem provenientes de vários países, especialmente do mundo árabe. Existem sérias suspeitas que alguns governos ocidentais vem mantendo contatos secretos há vários meses com os insurgentes.
Fica evidente, pois, que a guerra já está internacionalizada. Somente as organizações internacionais e regionais não assumem maiores responsabilidades porque possuem impedimentos legais, além da falta de vontade política para incrementar a pressão por mudanças.
Todavia, como bem lembrou um civil sírio ao reclamar da indiferença internacional para com a sorte dos seus concidadãos, os Estados Unidos, como hiperpotência, quando desejam não costumam pedir autorização a ninguém para fazer a guerra, mesmo que seja criar uma guerra para acabar com outra.
E, por último, existem aqueles países que assistem quase indiferentes ao que está acontecendo na Síria, como é o caso do Brasil. Assim, para o governo brasileiro não existe solução militar para a guerra. A saída é o dialogo, pensa a nossa chancelaria, como se isso fosse possível com o governo Assad.
Triste período que vive a Síria e o seu povo. Os últimos anos da tirania de Assad serão lembrados pela história como um momento de muita dor e sofrimento.





* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com

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