domingo, 7 de outubro de 2012

Perspectivas da Crise na Europa


Pio Penna Filho*


A crise continua forte na Europa, sobretudo em alguns países que estão sentindo de forma mais severa os seus efeitos. Dentre eles se destacam Espanha, Portugal e Grécia, embora não sejam os únicos. Essa crise, segundo os especialistas, ainda levará tempo para ser superada e os seus reflexos se prolongarão ainda por vários anos.
Algumas manchetes, coletadas de forma aleatória em jornais, nos dão a dimensão severa da crise e seu impacto social: “Mais de 500 famílias são despejadas por dia na Espanha”, “Grécia corre contra o tempo e busca aprovação de pacote”, “Portugal sobe imposto de renda em 30% para cumprir metas de resgate” e “Maior sindicato de Portugal convoca nova greve geral”, são alguns exemplos.
Acostumados a um padrão de vida elevado, os europeus estão agora sentindo na pele o que é viver com restrições. Aumentou o desemprego, a renda diminuiu, os preços e os impostos subiram. Ou seja, a pobreza voltou e está presente após um ciclo de prosperidade no velho continente.
As implicações sociais da crise são grandes e já se fazem sentir na Europa e alhures. Aqui no Brasil já percebemos o aumento do fluxo de cidadãos europeus em busca de trabalho e melhores condições de vida. Quem diria! Dez anos atrás eram os brasileiros que buscavam melhores condições na Europa.
Certamente a crise trará mais novidades políticas em vários países europeus. O próprio processo de integração vem passando por sérios questionamentos por parte de vários setores sociais europeus. Parece que há um quase consenso em apontar a adoção da moeda única, o euro, como um dos principais vilões da crise. Mas isso é pouco. O euro certamente teve e tem o seu papel na crise, mas por si só não a explica totalmente.
Dentre os possíveis cenários no médio e longo prazo, podemos vislumbrar a diminuição da interdependência econômico-comercial das economias europeias. A economia alemã, a mais dinâmica da Europa, caminha a passos largos para se conectar cada vez mais com a China e com outros mercados fora da Europa. Certamente, isso provocará impactos na ideia de um espaço econômico comunitário no âmbito continental.
A fase atual é muito mais de fragmentação. Estamos assistindo a um processo que está comprometendo a união entre os países europeus e também a unidade política de alguns desses países, sendo que esse fenômeno é especialmente forte na Espanha. Muitos já não acreditam mais na Europa como unidade política e veem justamente na União Europeia a principal fonte do seus problemas.
A diminuição e mesmo a retração no processo de integração da Europa é um exemplo do dinamismo da história. O que parecia consolidado há poucos anos atrás e que era exemplo e inspiração de integração para vários outros blocos regionais está se mostrando, aparentemente, um castelo de cartas.
Mas o resultado final, de todo modo, só o tempo dirá. Os europeus tanto podem retomar a integração, num novo patamar, quanto enfrentarem uma gradativa e forte retração na ideia comunitária. O fato é que atualmente a principal tendência é justamente essa última.





* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com

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