domingo, 25 de agosto de 2013

Guiana Francesa

Pio Penna Filho*
A maior fronteira da França não é com nenhum país europeu, como seria “lógico” e natural supor, uma vez que se trata de um país localizado na Europa. Na verdade, sua maior fronteira é justamente com o Brasil, que se dá por meio da chamada Guiana Francesa, um resquício da era do colonialismo encravado na grande Amazônia.
A Guiana Francesa é considerada um Departamento Ultramarino da França, ou seja, parte do território francês. Sua capital é Caiena, que conta com aproximadamente 62 mil habitantes, de um total estimado de 221 mil habitantes para todo o território.
Para os franceses, o que mais interessa na Guiana é a base de Kourou e adjacências, o que contempla a capital Caiena. o território é um dos mais importantes centros de lançamentos de foguetes do mundo. A partir da base de Kourou, os franceses (e seus associados) já lançaram com sucesso mais de 300 satélites, a maior parte deles utilizando foguetes Ariane.
Mais recentemente, houve uma expansão da base de lançamentos, que passou também a utilizar foguetes russos Soyuz, que pela primeira vez na história foram lançados de fora de território ex-soviético ou russo.
A economia da Guiana é muito pouco desenvolvida, o que gera alta dependência de recursos provenientes da “metrópole”, uma vez que possui modesta produção e uma pauta de poucos produtos exportáveis, o que é, aliás, bem típico de um modelo “colonial”.
As relações entre Brasil e França, no que diz respeito à Guiana, apresentam um baixo perfil. Aliás, existem desconfianças mútuas, o que acaba prejudicando projetos de maior aproximação.
Do lado da França/Guiana, observa-se que as autoridades francesas não promoveram a abertura de vias que integrassem as áreas litorâneas, mais povoadas, com o interior, sobretudo com as zonas de fronteira mais ao sul, que praticamente não possuem cidades ou núcleos populacionais. Além disso, em decorrência do aumento da entrada de migrantes ilegais (muitos deles provenientes do Brasil), a França endureceu a fiscalização nas fronteiras e dificultou a concessão de vistos de entrada para a Guiana (já para a própria França, essa exigência não existe).
Do lado brasileiro, só muito recentemente o país se preocupou em buscar uma maior aproximação com o território francês do ultramar na América do Sul. Assim, foi apenas no governo Fernando Henrique Cardoso que Brasil e França começaram a discutir a construção de uma ponte ligando a cidade brasileira de Oiapoque à cidade guianense de Saint-Georges-de-l’Oyapock, projeto que somente avançou após entendimentos entre os governos Lula da Silva e Nicolas Sarkozy.
Em suma, há ainda um longo caminho a ser percorrido para que o Brasil possa se aproximar da Guiana e ampliar o grau de interação com a França por meio da condição de vizinhos territoriais, o que pode trazer benefícios para ambos.




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