segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Instabilidade Crônica

Pio Penna Filho*

Alguns países vivem um quadro de verdadeira instabilidade crônica, ou seja, entraram em crises profundas e recorrentes e que são muito difíceis de serem solucionadas. Hoje, os casos mais evidentes são os da Somália, Haiti, República Democrática do Congo, Sudão do Sul, Síria e Afeganistão. Mas esses não são os únicos.
Algumas crises políticas acabam resultando em guerra, que no fundo é um forte sintoma de que o Estado e suas instituições estão doentes e que o organismo estatal já não consegue responder adequadamente às dinâmicas conflitivas no interior de suas sociedades.
A Somália é, de longe, o caso mais grave entre todos. Por lá o Estado desapareceu há tempos e o país entrou num ciclo de violência aparentemente sem fim. A falência do Estado significou também o fim das precárias instituições que existiam, deixando a maior parte da população à deriva ou, melhor dizendo, subjugada às vontades de determinados grupos que conseguiram se estruturar e exercer o poder por meio da força e da coerção.
O Afeganistão é outro Estado que vive quadro de instabilidade crônica há décadas. O país passou pela invasão da então União Soviética na década de 1980 e depois pela luta fratricida envolvendo grupos políticos e religiosos divergentes, até que os talibãs assumiram o poder e, logo depois, veio a invasão da aliança liderada pelos Estados Unidos.
Um caso um pouco diferente é o do Haiti. O país jamais possuiu instituições bem estruturadas e o fraco Estado consubstanciava-se na figura do ditador de plantão, até que veio uma profunda crise no final dos anos 1980 e ao longo da década de 1990, período em que houve um ensaio frustrado de democratização seguido por uma profunda crise. Até hoje não houve o restabelecimento concreto do Estado e a delicada estabilidade vem sendo mantida por uma intervenção internacional da qual o Brasil participa e não sabe como sair.  
O fato é que o modelo de organização econômica, social e política que vivemos no mundo atual pressupõe um Estado minimamente estruturado que possibilite algum grau de estabilidade política. Sem isso, o que assistimos é quase o chamado “estado de natureza”, no qual prevalece a vontade do mais forte. Dos países citados acima, todos fracassaram na estruturação de um Estado que garanta a estabilidade política e um mínimo de coesão social.
A existência de um Estado estruturado não quer dizer, contudo, que por si só essa característica seja uma solução permanente para os problemas de uma determinada sociedade ou mesmo a condição sine qua non para a prosperidade e felicidade de um povo. Isso porque existem diferentes tipos de Estados e alguns apenas mantem a estabilidade política e social porque utilizam de mecanismos tirânicos, como é o caso, por exemplo, da Coréia do Norte.
O fato, afinal, é que o quadro de instabilidade mais crônica que podemos observar no período em que vivemos concentra-se naqueles países em que as instituições faliram, fragilizando o Estado e a sociedade.




* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com

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