segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Moçambique na Encruzilhada

Pio Penna Filho*

Mais um país africano de língua oficial portuguesa se encontra numa situação delicada, de pré-guerra civil, com algumas de suas regiões vivendo em alta tensão. Moçambique, que era visto até bem pouco tempo atrás como um caso relativamente bem sucedido de resolução de conflito, agora apresenta um perigoso recuo político que pode trazer de volta os horrores da guerra para uma população já por demais sofrida.
Os principais atores políticos de Moçambique são a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), que governa hegemonicamente desde a independência, em 1975, e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), um movimento criado em 1977 que recebeu apoio da então Rodésia do Sul (hoje Zimbábue) e da África do Sul quando ainda vigorava o apartheid.
A Renamo nasceu justamente para combater a Frelimo, que naquela época professava o socialismo e se alinhava com a então União Soviética, além de ser a favor do fim do regime do apartheid na África do Sul e contra o domínio da minoria branca na vizinha Rodésia, daí o incentivo e apoio recebido pela Renamo por parte desses dois países.
A guerra entre a Renamo e a Frelimo durou de 1977 a 2002, tendo sido considerada uma das mais brutais do continente africano durante a Guerra Fria. Foi um típico conflito desse período histórico e prova disso é que chegou ao fim quando a Guerra Fria passava para a História.
Desde então Moçambique passou a viver sem o horror da guerra, embora muitos dos seus problemas sociais e políticos não tenham sido solucionados e nem sequer encaminhados. A economia moçambicana é muito limitada, possuindo poucos produtos em sua pauta de exportações e o país é altamente dependente de ajuda externa para se manter.
Entretanto, de alguns anos para cá o quadro econômico de Moçambique tem mudado, com a intensificação de investimentos externos em alguns setores específicos. Ganham destaque os investimentos realizados no setor de mineração e na exploração de gás, principalmente a partir da descoberta de novas e importantes jazidas. Existe também a perspectiva da exploração de petróleo, mas ainda não se sabe se a exploração será economicamente viável. Ainda em termos econômicos, é importante registrar o crescimento do setor agrícola, o que reforça a economia do país.
Mas apesar de todas as perspectivas econômicas o quadro social continua muito ruim. A maior parte da população moçambicana não se vê contemplada com o crescimento econômico e os programas sociais estão muito aquém das necessidades da sociedade.
Do ponto de vista político, o quadro geral é de desgaste dos principais partidos e a retomada da violência é um sinal de que as coisas não vão bem. Falta diálogo político entre as partes e a hegemonia quase absoluta da Frelimo não ajuda em nada. É uma pena porque, justamente no momento em que os indicadores econômicos começam a melhorar, o enfretamento violento entre o governo e a Renamo torna o país instável internamente e é, ao mesmo tempo, uma ameaça aos investidores externos.






* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com

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