segunda-feira, 28 de julho de 2014

Infâmia e Massacre em Gaza

Pio Penna Filho*

As cenas são fortes: casas e prédios destruídos, hospitais e ambulâncias atacados, homens, mulheres, idosos e crianças mortos por um dos exércitos mais bem equipados e treinados do mundo. Violações sistemáticas e indiscutíveis dos mais elementares direitos humanos estão ocorrendo nesse momento na Palestina perpetrados pelo governo de Israel, inclusive com suspeita de crimes de guerra.
A guerra da palestina, ou melhor, o massacre na palestina de julho de 2014 entrará para a galeria da história como mais uma das brutais ações promovidas pela estupidez humana.
Não bastasse a derrubada do avião da Malaysia Air com seus quase trezentos mortos na semana passada, sem contar a própria violência da guerra civil na Ucrânia e em tantas outras partes do mundo (vale lembrar a quase já esquecida Síria), assistimos agora ao brutal e indiscriminado massacre de palestinos na Faixa de Gaza.
Israel insiste em alegar que a culpa da guerra, do massacre, é exclusivamente do movimento Hamas. Está apenas parcialmente correto. Israel, por seus atos, resolveu dividir a infâmia com o Hamas. Ambos estão errados. Ambos devem ser diretamente responsabilizados pela violação do direitos humanos e pelo assassinato de centenas de pessoas.
O Hamas não deseja a paz com Israel. Suas ações indicam que o grupo insiste na equivocada ideia da impossibilidade de que palestinos e israelenses possam conviver em áreas contíguas. Insiste em desafiar militarmente um Estado poderoso. Insiste em lançar foguetes e espalhar o medo e o terror nas cidades israelenses.
Israel, por sua vez, faz da vida de milhares de palestinos uma verdadeira tormenta. No dia a dia prevalece a humilhação com os procedimentos de “segurança” impostos aos palestinos que, sem alternativa econômica, são obrigados a procurar trabalho em Israel. Durante os conflitos, como o atual, as Forças Armadas de Israel atacam alvos quase indiscriminadamente, matando ou ferindo centenas de civis.
No plano externo, a ONU tem feito pouco para encaminhar o problema entre israelenses e palestinos. Mas, no fundo, todos sabemos como a ONU funciona e, principalmente, suas limitações. O problema, portanto, não é exatamente a ONU, mas sim o comportamento dos Estados Unidos e, eventualmente, dos seus aliados europeus.
É interessante observar que todas as iniciativas internacionais para solucionar o conflito falharam. Algumas provocaram alguns avanços, mas nada a ponto de resolver o problema da Palestina. Portanto, enquanto não ocorrer uma mudança no comportamento dos atores internacionais e regionais mais importantes, pouca esperança restará para o povo palestino.
E é exatamente isso que alimenta movimentos radicais como o Hamas. A falta de perspectiva é tão grande para a comunidade palestina que alguns dos seus membros acabam acreditando que, de fato, a única saída é por meio da violência.
Infelizmente não há nenhum cenário positivo no curto e médio prazos para a questão palestina. O que estamos assistindo hoje tem tudo para acontecer de novo e de novo, só para nos lembrar que a intransigência política, o egoísmo e a estupidez humanas estão muito longe de terminar.





* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com

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