segunda-feira, 14 de julho de 2014

O Perigo do Ebola

Pio Penna Filho*

Desde 1976, de tempos em tempos o vírus do ebola ressurge em alguma parte do continente africano mostrando todo o seu poder mortífero. Recentemente uma nova onda apareceu na Guiné e logo ultrapassou suas fronteiras, atingindo Libéria e Serra Leoa, países vizinhos. Várias cidades já registraram sua presença e mais de 500 pessoas morreram. Essa contabilidade tende a aumentar com o passar das horas e dos dias, e provavelmente a quantidade de mortos é bem maior do que 500.
O Ebola é um vírus extremamente perigoso. Estimativas indicam que cerca de 90% das pessoas contaminadas morrem e, via de regra, de maneira muito dolorosa. Sua forma de disseminação se dá basicamente pelo contato com sangue e secreções de pessoas contaminadas, o que eleva enormemente o risco para todos aqueles que de alguma forma tem que tratar diretamente dos doentes, como enfermeiros, médicos, familiares e amigos (sendo que também é alto o risco para o pessoal responsável no pós morte, como agentes funerários e coveiros).
E há ainda o estigma da doença. São muitos os casos de pessoas discriminadas por terem parentesco com alguém que contraiu o ebola ou porque vivem em áreas que registraram casos da doença. Não é exagero afirmar que ela causa um verdadeiro pânico nas populações das regiões e adjacências em que se faz ou se fez presente.
Não existe vacina ou cura para o ebola, apenas tratamento dos sintomas, como febre, dores musculares, dores de cabeça, inflamação na garganta, dentre outros. Além disso, o seu diagnóstico preciso depende de exames laboratoriais, o que demanda recursos e a existência de uma infraestrutura mínima de saúde, o que é raro de se encontrar nas regiões mais interioranas da África.
Quando um surto de ebola é identificado, as chances do vírus ter se espalhado são muito grandes, sobretudo quando a estrutura de vigilância sanitária não existe ou é precária. E esse quadro é, infelizmente, a realidade reinante nos países pobres ou em desenvolvimento (embora também exista em países mais desenvolvidos).
No atual quadro, o desafio maior do ebola é regional, ou seja, o vírus se espalhou para países de uma mesma região ficando, aparentemente, restrito ao continente africano. Com o aumento dos deslocamentos humanos entre países e entre continentes, é bem plausível e até provável que em breve esse vírus chegue a outros continentes. Contudo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera baixa, pelo menos por enquanto, a probabilidade de que o vírus saia do continente africano.
Destaque-se, entretanto, que por baixa que seja, essa probabilidade existe e se o vírus atingir cidades com grandes aglomerações humanas o seu controle se tornará muito difícil, senão impossível.
Hoje em dia, como observado anteriormente, os deslocamentos humanos, inclusive em longas distâncias, são corriqueiros e raramente existem controles sanitários. Mesmo porque, nesse caso e em vários outros relacionados a doenças transmissíveis, existe uma fase assintomática, sendo impossível detectar sinais de determinadas doenças a olho nu.
Por enquanto a epidemia do ebola, mesmo fora de controle, está restrita a partes da África Ocidental, mas o perigo de sua disseminação para outras partes do mundo é real. Não se trata, pois, de um problema exclusivamente africano, e o envolvimento das autoridades de saúde pública internacional devem levar isso em consideração antes que seja tarde demais.




* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com

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