domingo, 8 de setembro de 2013

Espionagem e Terror

Pio Penna Filho*

Duas das democracias mais consolidadas do mundo vem abusando insistentemente da espionagem indiscriminada em nome da guerra ao terror. Aproveitando-se do fato de que vivemos numa sociedade da informação e do alto grau de conectividade digital dos tempos atuais, Estados Unidos e Inglaterra uniram esforços para construir uma vasta rede de espionagem contra pessoas espalhadas pelo mundo.
Causa espanto o fato de que as denúncias contra tal estado de coisas tenham sido, pelo menos até o presente momento, muito tímidas. Poucos governos até agora protestaram contra essa prática que nos lembra a ação de uma espécie de “big brother” e que até pouco tempo atrás era imediatamente associado a estados totalitários.
Não fosse a ação da organização WikiLeaks e de um ou outro funcionário do governo norte-americano suficientemente consciente e corajoso para tornar público a invasão do privado pelas práticas autoritárias dos democratas dos Estados Unidos e da Inglaterra, dificilmente teríamos consciência da extensão da espionagem dos governos desses países.
Tradicionalmente, e com exceção de governos ditatoriais, a espionagem costumava ter endereço certo, ou seja, era dirigida contra determinados governos e organizações consideradas potencialmente perigosas para os interesses deste ou daquele Estado. Não é mais o que se vê. Agora, somos todos suspeitos.
Nossas mensagens de e-mail e conversas telefônicas estão sendo submetidas ao crivo dos agentes/espiões dos Estados Unidos e da Inglaterra, sem o menor pudor. Sociedades espalhadas pelo mundo encontram-se sob vigilância indiscriminada e esses Estados coletam informações permanentemente, sejam elas relacionadas exclusivamente à nossa vida privada, sejam elas associadas a posições políticas.
Algo está muito errado e é preciso reagir. É bom lembrar que o dedo acusatório dessas duas grandes potências até bem pouco tempo atrás era dirigido contra regimes autoritários que agiam da mesma forma.
Esse tipo de prática não costuma terminar bem. A história nos mostra que governos que tentam controlar as suas sociedades enveredam por caminhos sinuosos e, acima de tudo, contrários à prática da boa democracia. De boas intenções, o inferno está cheio, como diz um sábio ditado popular.
Ou reagimos ou sucumbiremos. Não se trata de ficar apenas à espera da reação das sociedades dos dois países espiões. Eles não estão vigiando apenas os seus cidadãos, o que já seria um absurdo. Os seus tentáculos espalharam-se pelo mundo sem fronteiras da sociedade em rede. É preciso dar um basta nisso enquanto ainda é tempo.





* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com

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