segunda-feira, 9 de junho de 2014

Escalada na crise ucraniana

Pio Penna Filho*

O conflito político na Ucrânia parece caminhar para um cenário desastroso. O envolvimento de potências ocidentais nas disputas políticas ucranianas acabou forçando a Rússia a tomar posição clara na defesa dos seus interesses, o que a colocou em rota de colisão com os países membros da OTAN, sinalizando para uma perigosa escalada militar.
Desde a queda do governo do ex-presidente Victor Yanukovich e da anexação da Crimeia pela Rússia, o que se observa é que a conjuntura política se deteriorou, com a radicalização de setores pró-russos se opondo cada vez mais violentamente contra nacionalistas ucranianos.
A expectativa inicial de uma acomodação política que pudesse de alguma forma contornar a crise não se verificou, pelo menos não até agora. Assim, assistimos a polarização do discurso opondo os ucranianos pró-Ocidente versus os pró-Russos.
Nesse meio tempo, medidas de força foram tomadas por ucranianos de fala russa que se sentem inseguros diante dos grupos que tomaram o poder em Kiev. Com apoio disfarçado ou declarado do governo russo, esses grupos se sentiram fortes o suficiente para reivindicar claramente a separação dos territórios predominantemente habitados por eles frente à parte mais ocidental do país, justamente onde se localiza a capital, Kiev.
Já o governo ucraniano foi buscar no Ocidente (entre europeus e norte-americanos) apoio contra o que entendem ser uma ingerência da Rússia nos assuntos internos do país. Além do apoio financeiro para reorganizar as finanças de um país em crise e manter o que sobrou da máquina administrativa em funcionamento, buscam também suporte militar diante de uma possível intervenção militar russa nas áreas mais próximas entre os dois países, ou seja, onde há maioria de população de fala russa.
O grande problema é que as diferenças entre os ucranianos passou por um processo de internacionalização que colocou em lados opostos forças poderosas. De um lado, a Rússia interviu e anexou a Crimeia, além de prestar o seu apoio a movimentos separatistas. De outro, os Estados Unidos e a OTAN ensaiam uma política de confrontação contra o que entendem ser um movimento de expansão dos interesses russos em direção à Ucrânia.
Esse cenário é muito perigoso porque pode levar a uma confrontação direta entre a OTAN e a Rússia na Ucrânia, com consequências imprevisíveis. Ao longo da história outros graves conflitos começaram de forma similar, isto é, uma disputa em um país periférico acabou envolvendo e arrastando grandes potências para a guerra.
É preciso, portanto, acompanhar com muita atenção e cuidado a evolução da crise ucraniana, antes que seja tarde demais para conter espíritos mais belicosos. Nesse sentido, a ONU deveria estar mais atenta para tentar mediar o conflito enquanto ainda é tempo.
Por ora, estamos assistindo a acusações recíprocas entre russos e norte-americanos de quebra dos acordos já celebrados para tentar conter uma evolução negativa da crise. Se não sairmos rápido desse patamar, talvez muito em breve seja tarde demais para se evitar mais uma guerra, que tem todo o potencial para ser uma guerra de grandes e graves proporções.  

















* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com

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