segunda-feira, 9 de junho de 2014

Reação Russa

Pio Penna Filho*

Os russos anunciaram recentemente que irão responder concretamente aos embargos americanos contra o seu país relacionados à anexação da Crimeia e à conjuntura política ucraniana. A reação russa tem tudo para desgastar ainda mais suas já complicadas relações com os Estados Unidos.
Essa semana foi noticiado que a partir de 2020 a Rússia cessará a cooperação espacial com os Estados Unidos e que a partir de setembro deste ano irá desativar as estações de rastreamento do sistema GPS, que pertence aos Estados Unidos, e que operam em território russo.
A reação russa veio após o anúncio de sanções norte-americanas contra o país motivados pela ocupação da Crimeia e pela política russa com relação à Ucrânia. São medidas legítimas de um Estado que se mostra soberano diante de pressões externas.
A resposta russa é uma boa lição para os Estados Unidos, que estão acostumados a pressionar Estados mais fracos e com baixa capacidade de reação. Sem dúvida, em alguns setores os russos podem prejudicar os Estados Unidos, que terão que encontrar alternativas independentes da cooperação russa.
O caso da estação espacial internacional e da utilização dos foguetes russos é um claro exemplo. Nesse sentido, os norte-americanos serão obrigados a voltar a investir em foguetes ou retomar o programa dos ônibus espaciais, desativado há poucos anos. Caso contrário, ficarão vulneráveis e à mercê das autoridades russas.
A questão do sistema GPS também é emblemática. Atualmente só existem dois sistemas de ampla cobertura para posicionamento global, sendo que o mais conhecido é o GPS, presente em praticamente todos os smartphones e muito utilizado em automóveis, além de uma série de outros aparelhos eletrônicos. A ameaça de desativação das estações de rastreamento em território forçarão os Estados Unidos a encontrar alternativas, caso contrário a precisão do serviço ficará comprometida.
O outro sistema é russo e chama-se GLONASS. Diante da situação atual os russos estão exigindo reciprocidade dos Estados Unidos ou desativação das estações americanas na Rússia. Ou seja, os russos exigem que os Estados Unidos permitam a construção de estações de rastreamento russas em seu território para ampliação e melhoramento do GLONASS.
Como se pode perceber, existem trunfos em mãos russas para pressionar os Estados Unidos. Com a situação política se deteriorando a olhos vistos em algumas situações de conflito, especialmente na Ucrânia e na Síria, onde as duas potências não conseguiram chegar a um entendimento político, o quadro pode se deteriorar ainda mais.
Na conjuntura atual o mais grave é a situação na Ucrânia. A possibilidade de “ocidentalização” do país é considerada inaceitável pela Rússia e os norte-americanos e europeus sabiam disso. Fizeram uma aposta para lá de duvidosa e essa situação pode acabar saindo do controle.


















* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com

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